Reunião Braskem: Lula pede fim da briga, Renan pressiona ministro, e prefeito discute com governador
Na frente do presidente, JHC afirmou que Dantas estava mentindo quando o governador citou que o contrato firmado entre a prefeitura de Maceió e Braskem não era transparente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu em reunião nesta terça-feira que os grupos liderados por Arthur Lira (PP-AL) e Renan Calheiros (MDB-AL) reduzam as disputas políticas em torno da crise provocada pelo desabamento de uma mina da Braskem em Maceió. O tom do encontro, no entanto, deixou evidente as dificuldades do plano. Embora sem discussões acaloradas, houve momentos de tensão, o presidente precisou chamar atenção dos presentes, e uma cobrança direcionada por Renan ao ministro da Casa Civil, Rui Costa. Sequer houve registro oficial feito pelo fotógrafo da Presidência, contrariando a praxe de audiências do gênero.
A reunião ocorreu no gabinete de Lula no Palácio do Planalto, em uma mesa redonda, e levou duas horas e 20 minutos. Renan trabalha pela criação de uma CPI no Senado, tese que desagrada a Lira e ao prefeito de Maceió, JHC, aliado do presidente da Câmara. Todos os participantes puderam expor seus pontos de vista. Também estavam presentes o ministro dos Transportes, Renan Filho; o governador de Alagoas, Paulo Dantas, aliado dos Calheiros; além dos senadores Rodrigo Cunha (Podemos-AL) e Fernando Farias (MDB-AL); e dos deputados Paulão (PT-AL), Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Rafael Brito (MDB-AL).
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Dantas abriu a fala e foi interrompido por JHC. Segundo o deputado Paulão, JHC afirmou que Dantas estava mentindo quando o governador citou que o contrato firmado entre a prefeitura de Maceió e Braskem não era transparente e que ele precisou entrar na Justiça para ter acesso as informações do acordo. O presidente Lula expressou no olhar a surpresa com a interrupção.
— O prefeito JHC foi deselegante quando disse que o governador estava dando informações mentirosas. O governador respondeu que não mentia — disse Paulão ao Globo.
Lula reconheceu que o problema é grave, pediu serenidade para resolvê-lo e disse que as brigas entre os grupos não levarão a lugar algum. Embora a possibilidade de criação do colegiado tenha sido abordada apenas genericamente, a fala de Lula foi entendida, entre os integrantes da mesa que defendem a comissão, como um recado de que o Planalto não é a favor. A previsão é que a CPI seja instalada nesta quarta-feira. O presidente também defendeu a conciliação ao tratar sobre a CPI e repetiu que todos sabem como CPI começa, mas não sabem como termina.
O presidente também afirmou que só iria a Maceió quando houvesse um anúncio a ser feito sobre a solução do problema e os ânimos entre os dois grupos políticos não tivessem mais exaltados.
Já o prefeito JHC foi interrompido por Renan Calheiros várias vezes. Durante as interrupções, o presidente precisou intervir. O contrato firmado pela prefeitura de Maceió, por exemplo, foi criticado pelo senador, pelo ministro dos Transportes e pelo governador de Alagoas. Eles defendem que o documento assinado pelo aliado de Lira excluiu algumas vítimas do processo. O acordo entre a prefeitura de Maceió e a Braskem foi firmado em julho. Renan Calheiros tem feito fortes críticas ao contrato e já o chamou de "acordo com o assaltante".
Entre as reclamações estão o fato de a negociação envolver a compra de terrenos pela Braskem, o que aliados do grupo de Renan avaliam como uma manobra para que a empresa não tenha prejuízo, e também a ausência do governo do estado nas negociações. Também é pedida uma reavaliação nos valores devidos às vítimas do desastre ambiental.
— A reunião foi importante para o presidente dimensionar a briga que está ocorrendo no Estado com o município. A beligerância continua — afirma Paulão.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, fez um amplo relato sobre o histórico das minas em Maceió e também citou que era necessário buscar alternativas para esfriar a tensão. Ao propor diálogo com a Braskem, foi interrompido por Renan Calheiros, que questionou se ele estava falando em nome da empresa ou do governo. Costa respondeu que estava tentando encontrar saídas. O senador replicou argumento que queria saber se aquela sugestão partia dele ou da Braskem.
O Globo apurou que, apesar das divergências políticas, e das opiniões distintas apresentadas na conversa, não houve ânimos exaltados entre Lira e Calheiros. Adversários históricos, Lira e Renan Calheiros se cumprimentaram, aguardaram na mesma antessala presidencial até que o presidente os chamasse. Durante a espera, Renan e Lira chegaram a participar juntos de duas rodas de conversa. Em uma delas, Paulão lembrou de quando foi deputado estadual com Lira e na outra parabenizaram a filha de Dantas pelo aniversário.
Segundo relatos de presentes no encontro, o senador do MDB e o presidente da Câmara não travaram embates diretos na reunião, mas cada um defendeu seu lado na disputa envolvendo a crise protagonizada pela empresa. No relato do deputado Paulão, um dos momentos em que houve interação entre Calheiros e Lira na reunião foi quando o senador sugeriu uma "trégua humanitária" a Lira, enquanto o presidente da Câmara respondeu que não era ele quem brigava com Calheiros, mas o contrário.
O encontro também tratou de auxílio emergencial de R$ 2,6 mil por família a 6 mil pescadores e a construção de 2,6 mil unidades habitacionais pelo Minha Casa, Minha Vida na faixa dois e três. Integrantes viram com ressalvas a ajuda do governo, ao alertarem que poderá se transformar em uma transferência de responsabilidades que cabe a Braskem, sob o argumento de que não é uma tragédia natural, mas um crime ambiental.