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RIO DE JANEIRO

Romário vaiado, revolta dos "sem pulseira" e discursos vetados: bastidores do ato bolsonarista no RJ

Ex-presidente reuniu pouco mais de 30 mil apoiadores na orla carioca na manhã deste domingo

Bolsonaro faz ato político em CopacabanaBolsonaro faz ato político em Copacabana - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio, recebeu, neste domingo, uma manifestação convocada por Jair Bolsonaro (PL). O ato reuniu quase 33 mil apoiadores do ex-presidente — segundo cálculo do grupo de pesquisa "Monitor do debate político", da USP — e teve discursos de diferentes personagens, como o próprio ex-mandatário, sua mulher Michelle Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, entre outros.

O evento, no entanto, acabou encurtado por conta do forte calor. Embora algumas figuras já tivessem discursado rapidamente antes desse horário, como o general Walter Braga Netto e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, o início formal do ato se deu às 10h, com a conclusão por volta de 12h30, após a fala de Bolsonaro.

Sobre o trio elétrico, um dos nomes mais lembrados foi o do bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), que desde o início do mês vem tecendo sucessivos ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos bastidores do encontro, porém, foram outros detalhes que chamaram atenção. Confira alguns a seguir.

Força-tarefa "anti-esbarrão"
O ato bolsonarista precisou incluir uma estratégia para que investigados por supostas investidas antidemocráticas não se cruzassem na orla carioca. Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, o general Walter Braga Netto, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e o dirigente do PL, Valdemar Costa Neto, estão impedidos de manter qualquer tipo de contato.

Repetindo expediente utilizado há dois meses, durante manifestação similar em São Paulo, Braga Netto passou pelo local antes mesmo do início formal do evento, previsto para 10h, e falou rapidamente ao público já presente. Ele não quis conversas com jornalistas. No cronograma dos organizadores, a participação do general estava marcada para 8h30, antes mesmo de ser aberta a transmissão ao vivo pela internet, a partir das 9h.

— Agradeço a vocês o carinho com o presidente Bolsonaro e comigo. Continuamos na luta pelo Brasil. Muito obrigada a todos vocês. Tenho que sair — disse Braga Netto.

Pouco depois, já com o general distante, foi a vez do pronunciamento de Valdemar:

— A única coisa que eu fico triste é de não poder ficar junto com o Bolsonaro — disse Valdemar logo após sua rápida participação, em que se limitou a apresentar políticos do PL.

 

Enquanto Braga Netto já mora no Rio, Valdemar e Bolsonaro decidiram, inclusive, se hospedar em hotéis diferentes, para evitar qualquer risco de que se esbarrassem. Embora tenha casa na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, o ex-presidente reservou um quarto no Pestana Rio Atlântica, na própria orla de Copacabana, como revelou o colunista do Globo Lauro Jardim. Já Valdemar, assim como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, hospedou-se no Fairmont, também na Avenida Atlântica, mas situado a pouco mais de um quilômetro do concorrente.

Vaias para Romário
Quando Valdemar Costa Neto estava no trio elétrico, ele citou nominalmente algumas figuras da política fluminense que hoje integram os quadros do PL. Entre elas, o senador Romário, que, mesmo ausente, foi vaiado pelo público.

— O PL mais forte do Brasil é no Rio de Janeiro, Bolsonaro vota no Rio de Janeiro, Michelle, Cláudio Castro, Flávio Bolsonaro. Romário, esse grande jogador — elencou o presidente da sigla, diante de reação negativa do público.

A reação está ligada à postura do ex-jogador no Congresso Nacional, nem sempre alinhada ao núcleo duro do bolsonarismo. Em 2022, na campanha que o reconduziu ao Senado, Romário chegou a esconder o então presidente e candidato à reeleição de seus santinhos.

Nas redes sociais, o senador postou fotos em um evento esportivo no estado de Goiás ao longo do fim de semana. No registro mais recente, no entanto, ele aparece ao lado do ator Caio Castro em uma festa à fantasia, vestido como policial ao lado de amigos, com a cidade de Goiânia marcada como localização.

A revolta dos "sem pulseira"
Na barreira montada na esquina da Rua Bolívar com a Domingos Ferreira, um tumulto foi formado após faltarem pulseiras para credenciamento de autoridades que desejavam acesso privilegiado ao ato. No local, os presentes apelavam pela liberação entoando seus cargos no partido, mostrando e-mails trocados e até se declarando como pré-candidatos.

No entanto, poucos foram liberados sem a pulseira no pulso. Segundo a organização, não havia, àquela altura, previsão de chegada de novas credenciais. A orientação, então, era pelo acesso ao evento como o público em geral, pelas laterais, o que desagradou a quem apostava em algum tipo de tratamento diferenciado para ingressar na manifestação.

A barreira só foi desmontada após ter que ser aberta às pressas para o socorro a um homem que passou mal. A segurança também considerou que as principais autoridades já haviam chegado ao evento e decidiu encerrar o controle de acesso.

Sem governadores em destaque
Os únicos governadores que compareceram ao ato foram Cláudio Castro (PL), do Rio, e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, que não discursaram. Entre os que estavam previstos, a ausência mais notada foi a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que ainda assim ganhou elogios de Bolsonaro.

— Quem é Tarcísio de freitas? Um jovem militar formado na mesma academia que a minha, a das Agulhas Negras. E o Tarcísio de Freitas carioca, torcendo para o Flamengo, se candidatou em São Paulo e ganhou.

Outras baixas no Rio entre os que estavam no ato de fevereiro, na Avenida Paulista, foram Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União), de Goiás. Segundo a assessoria do chefe do Executivo mineiro, Zema acompanha comemorações do feriado de Tiradentes pelo estado neste domingo.

Já o governador de Goiás disse à reportagem que já compareceu ao ato em São Paulo e que não havia necessidade de demonstrar novo apoio ao ex-presidente.

— Fui a São Paulo, mas a partir daí, para ir a outros estados, não teve nenhum convite. Não vou ao Rio porque afinal de contas já estive presente onde era o pontapé inicial, agora ele segue mantendo a pauta dele, não tem por quê. Bolsonaro agora está todo dia em um estado da federação diferente. Rio não é diferente de Minas, Mato Grosso e outros estados onde ele já esteve — disse Caiado em entrevista ao GLOBO.

Silêncio de Ramagem
O pré-candidato do PL à prefeitura do Rio, Alexandre Ramagem, subiu ao palanque e teve destaque na chegada ao lado de Bolsonaro, mas não discursou. A decisão foi tomada para evitar que a Justiça o enquadrasse por campanha antecipada.

— Advogados eleitorais pediram para evitar — justificou ao GLOBO o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), um dos organizadores do ato.

Ao longo da semana, aliados de Ramagem se dividiram entre os que achavam que o pré-candidato deveria falar e os que avaliavam que as falas poderiam ser consideradas campanha fora de época pela Justiça Eleitoral.

Discursos vetados
Embora houvesse, inicialmente, 12 discursos previstos, apenas sete pessoas falaram ao público. As participações dos deputados federais Hélio Lopes (RJ) e Silvia Waiãpi (AP) e dos senadores Flávio Bolsonaro (RJ), Marcos Rogério (RO) e Rogério Marinho (RN), todos do PL, acabaram não ocorrendo.

Segundo o principal organizador do ato, o pastor Silas Malafaia, a definição partiu de Bolsonaro por conta das condições climáticas na capital fluminense.

— Bolsonaro viu o sol violento, começou gente a passar mal, e ele virou pra mim e disse assim: “Malafaia, vamos cortar, vai dar zebra. Falam Nikolas (o deputado federal Nikolas Ferreira, de MG), você e eu, porque vai da zebra”. Por isso que eles saíram cortando todo mundo — explicou o pastor ao Globo.

8 de janeiro
Em seu discurso, o ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a pedir anistia para presos pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores seus invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes, em Brasília. O tema também esteve muito presente entre o público.

Um cartaz com os dizeres "Projeto de Lei de Iniciativa Popular: Lei Cleriston da Cunha / Anistia para os réus do 08/01" chegou a ser estendido por manifestantes. Mais conhecido como Clezão, o nome que batizou a suposta iniciativa legislativa morreu em novembro do ano passado após sofrer um mal súbito no Complexo Penitenciário da Papuda, onde aguardava julgamento sob a acusação de envolvimento com tramas antidemocráticas. Cleriston da Cunha também foi lembrado em camisas exibidas em Copacabana.

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