Ronnie Lessa tentou matar Marielle três meses antes do crime, aponta Élcio em delação
Ataque teria sido adiado porque o ex-bombeiro preso alegou um defeito no carro. Arma usada no crime foi desviada do Bope
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A vereadora Marielle Franco tinha escapado da morte três meses antes de seu assassinato, segundo o ex-sargento da PM Élcio de Queiróz em sua delação.
À polícia, ele relatou que havia passado a virada do ano de 2017 para 2018 na casa de Ronnie Lessa que, alcoolizado, desabafou com Élcio que estava “chateado” por ter perdido “uma oportunidade de chegar a um alvo”, na área do Estácio, semanas antes.
Na ocasião, Lessa disse a Élcio que estava acompanhado do ex-bombeiro Maxwell Corrêa, o Suel, preso ontem e por Edimilson Oliveira, o Macalé, também policial militar, morto a tiros em 2021.
Maxwell tinha a função de dirigir, Ronnie, de atirar, e Edmilson, de fazer a contenção num carro logo atrás. A tentativa de matar a vereadora havia sido frustrada porque Maxwell, que estava dirigindo, não emparelhou com o táxi onde estava Marielle na hora que Ronnie mandou. Suel alegou que deu um problema no veículo, mas Ronnie disse a Élcio que a "não acreditava que teve problema, que foi medo, refugou”, disse em delação.
A arma do crime
A metralhadora HK MP5 usada no homicídio teria sido desviada durante incêndio no Batalhão de Choque da PM, no Centro do Rio, na década de 1980, segundo levantamento feito pela PF com base em informações fornecidas Queiróz. A arma seria do Batalhão de Operações Especiais (Bope), segundo o ex-PM. De acordo com a Polícia Federal, “a confirmação de que houve pelo menos dois incêndios em unidades do Batalhão de Choque e de que havia submetralhadoras HK MP5 em seus arsenais torna o relato sobre a origem da arma verossímil”. No entanto, os investigadores descobriram que os dois incêndios em 1982 e 1984 que atingiram paióis no Batalhão de Choque (BPChq), e não no Bope.
Na década de 1980, o BPChq foi o quartel da corporação responsável pela guarda de 12 submetralhadoras HK MP5. As armas chegaram ao batalhão em janeiro de 1983 e, posteriormente, em 1989, passaram a integrar o arsenal do Núcleo da Companhia de Operações Especiais, atual Bope. Em depoimento, Queiróz contou que Lessa costuma usar uma metralhadora HK MP5 em ações do Bope e tinha um "carinho" por essa arma.
Até hoje, a arma usada no crime não foi encontrada. À PF, Élcio afirmou ter ouvido de Ronnie que a arma teria sido jogada no mar depois do crime. “No início, ele ficou com ela ainda, mas quando o negócio começou a tomar muito vulto mesmo, eu falei: ‘O que você fez com essa arma?’ Ele falou: ‘Eu serrei ela todinha’. Ele falou que serrou ela todinha, pegou a embarcação lá na Barra da Tijuca, foi numa parte que tinha trinta metros e jogou ali”, contou ele.
Enriquecimento
Queiroz disse que Ronnie Lessa jurou para ele não ter recebido dinheiro para cometer o crime, mas que o crescimento no patrimônio do PM reformado fez com que ele desconfiasse dessa afirmação. Segundo Élcio, Ronnie tinha uma Range Rover Evoque, uma Dodge Ram blindada e uma lancha. Além disso, custeava duas casas e ainda fazia manutenção em um terreno em Angra dos Reis. Só esse imóvel na Costa Verde estaria avaliado em R$ 1,2 milhão. A polícia descobriu ainda que Ronnie também pagava R$ 2.049,95 em uma vaga para sua lancha, que custou R$ 261.449,95. Ele seria proprietário ainda de um imóvel no condomínio Píer 51, em Mangaratiba.
Milícia
Ronnie Lessa e Suel integravam a milícia que controla a favela do Turco, em Rocha Miranda, na Zona Norte do Rio, e arredores, onde os dois ganhavam dinheiro com a exploração de sinal clandestino de internet. A divisão do local era feita assim: “Todo asfalto que não é comunidade, é do Suel. A maior parte é do Suel”; já a menor, mais todo o Jorge Turco, eram de Lessa. Segundo o delator, Ronnie também tinha quiosques em uma favela de Manguinhos e renda com máquinas caça-níqueis.
Sem pagamento
Queiroz confessou ter recebido por “meses” pelo menos R$ 5 mil do ex-bombeiro preso ontem. A quantia, contudo, foi reduzida mês a mês e deixou de ser depositada “do nada” há mais de um ano, segundo o delator. O esquema, de acordo com Élcio, partiu do próprio Suel, que repassava a Ronnie Lessa R$ 10 mil por mês: R$ 5 mil para pagar o advogado de defesa e R$ 5 mil para ajudar nas despesas de Élcio, que estava "passando necessidade". O réu levanta dois motivos: a falta de movimentação do processo sobre a morte da vereadora e do motorista, e o fato de Ronnie estar “rico”.
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