SÃO PAULO

Secretário de Turismo escolhido por Tarcísio já defendeu "cura gay"

Roberto de Lucena é o primeiro pastor anunciado para o secretariado do governo paulista e já discursou contra decisão do STF que reconheceu união homoafetiva

 Tarcísio Gomes de Freitas, candidato ao governo de São Paulo Tarcísio Gomes de Freitas, candidato ao governo de São Paulo - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Único pastor até agora anunciado para compor a equipe do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o deputado federal Roberto de Lucena (Republicanos-SP) foi um ferrenho defensor do projeto conhecido como “cura gay”, que tramitou no Congresso entre 2011 e 2013, e já discursou contra decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu a união homoafetiva. Lucena foi indicado para o Turismo.

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O projeto do qual Lucena foi relator na Comissão de Seguridade Social propôs suspender dois artigos de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia: um proíbe psicólogos de oferecerem “tratamento” ou “cura” para “reversão” de orientação sexual, e outro que impede os profissionais de darem declarações reforçando “preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica”.

— Nesse tema do Projeto de Decreto Legislativo 234/2011 eu quero dizer que minha luta e minha defesa não é uma defesa hétero. Absolutamente. É uma defesa dos direitos humanos da minoria das minorias. É uma defesa para que o profissional da psicologia não seja impedido pela Resolução 199 de dar assistência àquele paciente que o procura espontaneamente, que o procura voluntariamente e pede a ele essa assistência — discursou Lucena, então do PV, em 2012.

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Fundador da Igreja O Brasil Para Cristo, de denominação evangélica pentecostal, Lucena já chamou de “equívoco” a decisão do STF que reconheceu a união homoafetiva como um núcleo familiar como qualquer outro.

— Defendo o respeito aos direitos civis dos cidadãos brasileiros, independentemente de sua opção sexual, inclusive o Estado já reconhece a união civil entre pessoas do mesmo sexo, e concede-lhes todas as prerrogativas pertinentes e asseguradas por lei, mas daí a instituir um novo modelo de família, de matriz homossexual, é um equívoco, sob todos os aspectos e sob todos os pontos de vista — afirmou o deputado federal em 2011.

Nesse mesmo dia, Lucena criticou o projeto de lei que criminaliza a homofobia. Ele argumentou que, se o Congresso aprovasse a proposta, a Bíblia se tornaria um livro criminoso, visto que “faz constar em alguns de seus textos reprovação explícita e condenação à prática homossexual”. O parlamentar acrescentou que a “família merece ser respeitada, sob o risco de vermos ruir toda a construção social da qual somos parte”.

Parada LGBTQIAP+

Ao GLOBO, Lucena disse que defendeu e defende que todas as pessoas que procurem um profissional de psicologia, independentemente da sua orientação sexual, possam receber apoio. Em relação à fala contra a decisão do STF, afirmou não se lembrar, mas ressaltou que é favorável aos “direitos civis já assegurados a todos os brasileiros”. O indicado para o Turismo afirmou que o projeto que trata da criminalização da homofobia sofreu alterações no trâmite e passou a privilegiar pessoas por causa de sua orientação sexual.

— Sou contra que pessoas sejam discriminadas por esse motivo e sou contra que pessoas sejam privilegiadas por esse mesmo motivo — afirma o futuro secretário.

Questionado sobre o que a comunidade LGBTQIAP+ deve esperar de sua gestão no Turismo, o deputado declarou que todos os programas da secretaria serão mantidos e aperfeiçoados. A Parada LGBT, diz ele, terá todo apoio institucional.

Lucena foi indicado pelo Republicanos com apoio da ala bolsonarista paulista. Ele já foi secretário de Turismo na gestão de Geraldo Alckmin.

O Republicanos tenta emplacar pelo menos outros dois nomes no governo: Aildo Rodrigues, ex-secretário de Esportes do estado, que seria indicado para a mesma pasta, e a deputada federal Maria Rosa (SP), para ocupar a Secretaria da Mulher.

Outros secretários já anunciados

Casa Civil: Arthur Lima

Foi o braço-direito de Tarcísio no Ministério da Infraestrutura.

Controladoria-Geral: Wagner Rosário

É ministro da Controladoria-Geral da União (CGU) desde 2017.

Fazenda e Planejamento: Samuel Kinoshita

Economista, trabalhou com Paulo Guedes no Ministério da Economia e integra a equipe de transição.

Governo: Gilberto Kassab

Ex-prefeito de SP e presidente do PSD. É rejeitado pela militância bolsonarista.

Infraestrutura, Meio Ambiente e Transportes: Natália Resende

Trabalhou como consultora jurídica do Ministério da Infraestrutura sob a gestão Tarcísio.

Segurança Pública: Guilherme Derrite

Bolsonarista, é capitão da PM e defende uma política linha-dura contra a criminalidade.

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