'Semana bastante complicada', diz Bolsonaro em live sem convidados sob pressão de Covid e Congresso
"Boa noite, quinta-feira, Brasília, 19h. Mais uma live. Vai ser bastante curta hoje, estou sem ninguém do meu lado aqui. Uma semana bastante complicada. Muitas coisas aconteceram, mas vamos lá".
Em meio ao agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil e à pressão do Congresso para que demita o ministro Ernesto Araújo do comando do Itamaraty, foi com estas palavras que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) abriu sua live, na noite desta quinta-feira (25).
Desta vez, na transmissão semanal, que costuma durar no mínimo uma hora e ter sempre ao menos um convidado para interagir com o presidente, Bolsonaro teve a companhia apenas da intérprete de libras Elizângela Castelo Branco.
Nenhum dos dois usava máscara, apesar de Bolsonaro ter tossido sete vezes durante os 19 minutos e 18 segundos de transmissão por redes sociais. O presidente costuma dizer que tem refluxo para justificar tosses.
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A live também não contou com perguntas vindas de um programa de rádio simpático ao presidente e que também transmite a apresentação do chefe do Executivo. Habitualmente, os apresentadores enviam indagações por áudio para o acompanhante de Bolsonaro, mas o presidente acaba respondendo.
Na transmissão, Bolsonaro cometeu um ato falho e disse que o governo havia trabalhado contra a vacinação.
"Nos preocupamos sim com as vidas e as medidas contra a vacina começaram a ser tomadas lá atrás. Muita gente nega isso aí, é negacionista, vamos assim dizer", afirmou.
Um pouco depois, foi alertado do erro por um auxiliar. "Eu falei medidas contra a vacina? Então, vamos corrigir: não é contra a vacina, [é] contra a Covid aí."
Apesar da reunião de conciliação em torno do enfrentamento da pandemia de Covid-19 com os demais Poderes e alguns governadores na quarta-feira (24), Bolsonaro insistiu em criticar medidas restritivas adotadas para conter a disseminação do vírus e defendeu o tratamento precoce, embora não tenha, desta vez, citado o nome de qualquer remédio.
"A economia, se parar, a politica de feche tudo radical, a gente não sabe onde vai parar o nosso Brasil", disse Bolsonaro.
Mesmo com a insistência na crítica, o tom adotado por Bolsonaro foi bem mais diplomático que em oportunidades anteriores.
Como já havia feito com apoiadores pela manhã, o presidente voltou a comentar decisão do governo alemão de cancelar uma paralisação rígida do país durante a Semana Santa.
O presidente, no entanto, mais uma vez, omitiu o motivo do recuo do governo alemão: o aviso sumário não dava tempo para o cancelamento de planos da população, e por isso foi revisto.
Após criticar Luiz Henrique Mandetta, o primeiro dos seus quatro ministros da Saúde, Bolsonaro disse que quem tiver sintomas de Covid deve procurar uma unidade básica de saúde ou um hospital. Foi aí que ele retomou sua campanha pelo tratamento precoce, que não tem comprovação científica de efetividade.
"Converse com o médico para ver o que ele vai receitar para você. Não tem um medicamento certo para isso ainda de forma clara. Não existe medicamento para isso. Mas o médico tem alternativas e pode salvar sua vida com essas alternativas. Então, o atendimento imediato é bem vindo e necessário. Se eu, porventura, for reinfectado, já tenho meu médico, já sei o que ele vai receitar para mim, o que me salvou lá atrás", disse o presidente, que já teve Covid-19 em julho do ano passado.
Ao falar de vacinas, Bolsonaro afirmou que o Brasil aplica, em média, 500 mil doses por dia, mas que "falta melhor interlocução entre a ponta da linha, estados e municípios com o Ministério da Saúde para que, cada vez mais, seja corrigida, com mais velocidade, a quantidade de pessoas que são vacinadas".
O presidente leu títulos de reportagens mostrando dificuldade de alguns países em conseguir imunizantes.
"Problemas, vários países têm. Não é uma exclusividade do Brasil. Não é atraso, é a quantidade de vacinas. O mundo todo quer", afirmou.
Bolsonaro passou por uma semana turbulenta. Além da escalada do número de mortes por Covid, Bolsonaro passou a ser duramente cobrado pelo Congresso a mudar sua postura na pandemia e a demitir Ernesto Araújo.
A situação do chanceler ficou insustentável após a formação de uma ampla coalizão para rifá-lo do governo, capitaneada pelas cúpulas do Legislativo e formada por militares, lideranças do agronegócio, parlamentares do centrão e grandes empresários.