Senado promove sessão com desinformação sobre vacina contra a Covid-19
A reunião era destinada a discutir o passaporte vacinal no país
O Senado promoveu nesta segunda-feira uma sessão de debates na qual alguns convidados usaram informações falsas ou sem comprovação científica para colocar em dúvida a eficácia de vacinas contra a Covid-19. O encontro foi presidido pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE).
A reunião, destinada a discutir o passaporte vacinal no país, que aconteceu no plenário do Senado, também contou com a presença das deputadas federais Bia Kicis (PSL-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP) e da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP).
Em todo o país, quase 80% da população recebeu a primeira dose do imunizante. A segunda dose da vacina, por sua vez, foi aplicada em aproximadamente 70%. Os dados são do consórcio formado por O Globo, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo que reúne informações das secretarias estaduais de Saúde.
Durante a sessão no Senado, a médica infectologista Roberta Lacerda afirmou que o nível de anticorpos que possibilita a eficácia vacinal "caiu por terra ao longo do tempo".
Ela chegou a insinuar, em certo momento, que "o número de caso de cânceres vai aumentar muito" como suposta consequência aplicação dos imunizantes, sem apresentar embasamento científico.
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Em fala semelhante, o médico José Augusto Nasser falou que os imunizantes atualmente disponíveis não são vacinas, e sim "terapias genéticas". Ele também utilizou uma suposta incidência de câncer como argumento contra a vacinação: "A terapia genética tem um outro objetivo. Ela te causa câncer, ela te causa problemas imunológicos, ela causa danos no teu DNA."
A deputada Carla Zambelli, por sua vez, fez associações entre casos de miocardite e morte súbita com a vacinação. Anteriormente, ela já havia feito publicações enganosas sobre o tema em suas redes sociais.
Apesar das declarações, a adesão à campanha de vacinação no Brasil contribuiu para reduzir os números de transmissão, hospitalização e mortes decorrentes do novo coronavírus.
Conforme mostrou o Globo, no final do mês passado, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a maioria dos casos graves de Covid-19 — mais de 90% — era de não vacinados ou indivíduos com vacinação incompleta.
O líder do PL, Carlos Portinho (RJ), que é defensor do passaporte vacinal no Brasil, reforçou que os imunizantes desaceleraram o número de mortes no país: "A vacinação é obrigatória. Ela nunca foi compulsória no nosso país. Cabe ao Governo conscientizar a população da sua necessidade. Sem a vacina, nós tínhamos 600 mil mortes no país; quatro, cinco meses depois, temos 625 mil, na maior parte, pessoas não vacinadas ou, pelo menos, não com o seu ciclo completo."
Na avaliação de José David Urbaez, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, o enfrentamento da pandemia deve ser feito com a vacinação aliada à adoção de outras medidas como a testagem e uso de máscaras.
Para Urbaez, a hesitação de uma parte da sociedade em se vacinar se deve à propagação de mensagens sem base científica:
"O certificação de vacinação é uma estratégia para estimular; talvez uma estratégia que permita que as pessoas que estão com essa hesitação possam ser então colocadas em uma outra atmosfera, nós tenhamos dispositivos para passar informações corretas para eles e munir de todos esses dados e de munir de essa tradição que as vacinas já têm, lembrando que foram vacinas, saneamento básico e uso de antibióticos que mudaram a história da evolução da espécie humana."