Servidores públicos 'guardiões' de Crivella são alvo de operação policial no Rio
Assessor apontado como chefe do esquema teve celular e computadores apreendidos
A Polícia Civil do Rio de Janeiro faz, nesta terça-feira (1º), a Operação Freedom contra os "Guardiões do Crivella", uma referência ao prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). O alvo é um grupo de servidores públicos que fazem serviço ilegal na porta de hospitais municipais.
O esquema, que tenta atrapalhar o trabalho da imprensa e impedir queixas da população, foi denunciado nesta segunda-feira (31) em reportagem da TV Globo.
A ação policial visa o cumprimento de nove mandados de busca e apreensão. Segundo a Draco-IE (Delegacia de Repressão a Crimes Organizados e Inquéritos Especiais), são investigados os crimes contra a segurança de serviço de utilidade pública, associação criminosa e advocacia administrativa. As penas por esses crimes, somadas, podem chegar a 9 anos de prisão.
Leia também
• Maia nega articulação para assumir Governo do Rio e diz que 'estão derrubando' o vice
• Funcionários da Prefeitura do Rio de Janeiro fazem plantão em hospitais para impedir reportagens
• 'Por acaso houve mortes em massa nos supermercados?', diz Crivella ao defender volta às aulas no Rio
Os mandados foram expedidos pelo juízo do plantão noturno do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro a pedido de delegados da Draco-IE.
De acordo com a Polícia Civil, um dos mandados de busca seria no morro da Mangueira, na zona norte da cidade, e por conta de decisões judiciais, que restringem as ações das polícias em comunidades, não poderá ser cumprido.
Um dos alvos da operação é Marcos Paulo de Oliveira Luciano, o ML, que aparece em grupos de WhatsApp dando ordens aos assessores. Com ele, agentes apreenderam notebooks, celular, dinheiro, cheques, contratos e um pacote escrito "Crivella".
Desde 2017, Marcos Luciano é assessor especial do gabinete do prefeito. Em julho, o salário foi de R$ 10,5 mil. Em 2018, ele ganhou uma moção de aplausos e louvor na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), a pedido da deputada estadual Tia Ju (Republicanos), o mesmo partido de Crivella, que atualmente é secretária de Assistência Social e Direitos Humanos da Prefeitura do Rio.
Segundo a polícia, os funcionários da prefeitura, sob a orientação do gabinete do prefeito, fazem plantão na frente dessas unidades de saúde e atuam como seguranças. Esse grupo de servidores tem escalas diárias, horários rígidos e ameaças de demissão.
Por meio de nota, a Prefeitura do Rio informou que reforçou o atendimento em unidades de saúde municipais "no sentido de melhor informar à população e evitar riscos à saúde pública, como, por exemplo, quando uma parte da imprensa veiculou que um hospital [no caso, o Albert Schweitzer] estava fechado, mas a unidade estava aberta para atendimento a quem precisava".
De acordo com a prefeitura, uma falsa informação pode levar pessoas necessitadas a não buscarem o tratamento onde ele é oferecido, causando riscos à saúde.
Questionada sobre a participação dos servidores públicos nesta ação na porta dos hospitais, a prefeitura não havia se manifestado nesta terça. A defesa de Marcos Luciano ainda não foi localizada pela reportagem.
O PSOL, por meio da deputada estadual Renata Souza e de sua direção, ingressou nesta terça-feira com um pedido de impeachment do prefeito Marcelo Crivella na Câmara dos Vereadores.
Para o partido, a denúncia da existência de grupo "Guardiões de Crivella" configura "flagrante inobservância dos princípios da probidade administrativa, em especial da honestidade, imparcialidade e legalidade, além de possível crime de responsabilidade".