Silêncio de Salles e Hélio Lopes irrita bolsonaristas após suspensão de conta de parlamentares
Posicionamentos conflitantes sobre postura esperada nas redes expõe racha no PL
Personalidades bolsonaristas conhecidas por inflamar o debate nas redes sociais, como o deputado federal eleito Ricardo Salles (SP) e o aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ), são alvos de críticas por parte dos políticos mais radicais do partido por não estarem se manifestando ativamente após a derrota do chefe do Executivo. O impasse se intensifica a medida que os bolsonaristas perdem voz na arena digital: onze parlamentares já tiveram suas redes suspensas por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
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Desde o segundo turno, o ex-ministro do Meio Ambiente do governo Jair Bolsonaro é publicamente criticado. 20 dias após o resultado, em meios aos bloqueios antidemocráticos que questionavam a legitimidade do processo eleitoral, Salles estava de férias em Fernando de Noronha. Na ocasião, nomes como o deputado estadual Frederico D'Avila chegaram a ironizar a postura do parlamentar eleito.
Ao Globo, D'Ávila reiterou a necessidade dos parlamentares de se apresentarem em meio ao momento atual, o qual considera grave. Para ele, trata-se de uma questão de coerência e lealdade com a plataforma que os elegeu:
"No momento mais grave, alguns parlamentares se omitiram de maneira quase absoluta, traindo o eleitor. Pessoas que se elegeram e conseguiram projeção por estarem alinhadas ao presidente Bolsonaro. Dentro do partido isso é ainda mais visível: um leão na campanha, mas um gatinho depois da eleição.
Deputado eleito com mais votos no Rio de Janeiro em 2018 e amigo próximo do presidente, Hélio Lopes é outro deputado alvo nas redes. Desde que Bolsonaro perdeu as eleições, Lopes usou as redes para veicular os dois pronunciamentos do chefe do Executivo.
A última vez em que mencionou o presidente em seu perfil foi nesta sexta-feira, quando postou uma foto ao lado de Bolsonaro na Copa América, em 2019. A atitude é apontada como incoerente por parte de integrantes do partido.
A deputada federal eleita Silvia Waiãpi, nome que promete liderar a oposição na Câmara, é uma das integrantes do PL que repudia o silêncio. Desde o segundo turno, ela publica diariamente vídeos dos atos no Norte do país e relata ter tido posts retirados do ar.
"Quem está em silêncio está traindo a população que agora vê que não pode contar com alguns dos escolhidos", afirmou Waiãpi em entrevista.
O contraponto
Diante das críticas, Salles afirmou, ao GLOBO, que sua postura está alinhada com a do presidente Jair Bolsonaro, que tem se mantido em silêncio. Sobre as críticas, ele diz se sentir tranquilo por representar os valores conservadores há 16 anos, bem antes do governo do chefe do Executivo.
"Primeiro a eleição ocorreu e Lula teve a votação dele. Durante o processo, cabia a nós questionar se houve um desequilíbrio institucional. Agora, o momento é do presidente e ele mesmo tem ficado em silêncio. Se ele que é o principal prejudicado não se manifesta, não é o caso dos parlamentares se manifestarem. Ele tem a prerrogativa de dar o Norte", afirmou o ex-ministro em entrevista.
Em uma participação em um programa da Jovem Pam, ele repetiu um argumento parecido. Na ocasião, ele disse não querer atrapalhar as estratégias de Bolsonaro. A manifestação foi defendida por membros da bancada como Carlos Jordy (RJ): "Quem vive criticando deputados aliados do Presidente Bolsonaro por não se manifestarem com mais firmeza junto com a população está apenas olhando a ponta do iceberg", escreveu o deputado no Twitter.