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Silvinei enviou mensagem a Bolsonaro pedindo encontro com suspeito de fraudar licitações da PRF

Ex-chefe da corporação sugeriu ao ex-presidente reunião com executivo em Miami

Ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei VasquesEx-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques - Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques pediu a Jair Bolsonaro que recebesse no início deste ano um empresário suspeito de fraudar licitações da corporação.

Em uma mensagem de WhatsApp, Vasques conta que Maurício Junot de Maria, representante da Combat Armor Defense do Brasil, gostaria de "dar um abraço" no ex-mandatário, que, naquela época, passava uma temporada nos Estados Unidos. A empresa americana foi contratada no governo Bolsonaro para fornecer veículos blindados à PRF. O negócio, que rendeu mais de R$ 30 milhões para a companhia entre 2020 e 2021, é alvo de uma investigação do Ministério Público Federal.

O pedido de encontro foi registrado em um print da tela do celular de Vasques. A CPI do 8 de Janeiro obteve acesso à imagem a partir de uma quebra de sigilo telemático do ex-chefe da PRF.

Procurado, o advogado Eduardo Pedro Nostrani, que assessora o policial rodoviário aposentado, disse desconhecer a mensagem. Questionada, a defesa de Bolsonaro não respondeu se o encontro de fato ocorreu. Procurado por meio de telefonemas e via redes sociais, Junot não foi localizado. A Combat Armor Defense do Brasil, que iniciou uma auditoria nos contratos firmados com a PRF, também não informou se a reunião foi realizada.

Na mensagem enviada para o contato “Pr Jair Bolsonaro Cel Novo 2023 Fevereiro”, Vasques escreveu: “Bom dia Presidente, o Senhor Maurício da Combat Armor Defense liga diariamente. Ele quer dar um abraço no Senhor. Sempre muito preocupado com sua segurança. Perguntou se possível recebê-lo por breves minutos no dia 03/02 em Miami, na data que ocorrerá o evento Power Of the people”. Ao final do texto, o ex-chefe da PRF acrescentou: “Ele é um grande líder empresarial e Mórmon no Brasil e nos EUA”. O print não mostra a resposta do ex-presidente.

Em 3 de fevereiro deste ano, data mencionada por Vasques na mensagem, Bolsonaro participou do evento citado. Naquele momento, o ex-presidente passava uma temporada na Flórida, para onde viajou um dia antes do fim de seu mandato. Ele retornou ao Brasil em março.

Na época, Junot era representante da Combat Armor Defense no Brasil, cargo que ocupou desde o início das operações da empresa no país, em 2019, até 2 de agosto deste ano, quando foi afastado da função. Segundo nota divulgada pela companhia na ocasião, o afastamento decorreu da investigação em curso no Ministério Público Federal.

Nos Estados Unidos, a empresa pertence a Daniel Beck, apoiador do ex-presidente americano Donald Trump que esteve em Washington à época da invasão ao Capitólio em janeiro de 2021.

Investigações
A relação entre Vasques e Junot é alvo de investigação no Ministério Público Federal no Rio de Janeiro. Em junho deste ano, uma reportagem do Jornal Nacional revelou que o MPF abriu um procedimento para apurar se houve fraude nos processos de licitação e se havia necessidade da compra de veículos blindados para a PRF. Isso porque a corporação tem como missão institucional patrulhar as rodovias federais, e os blindados adquiridos não têm características adequadas para esse fim.

O JN mostrou ainda que, dos 29 blindados comprados pela Superintendência da PRF no Rio de Janeiro, nove estavam parados sem uso na sede da corporação. Os veículos traziam o emblema da Combat Armor. De acordo com o G1, Junot contava com agentes da corporação em sua segurança particular, mantinha viaturas em frente à sua loja na zona oeste do Rio de Janeiro e era procurado pela Interpol, polícia internacional, quando ganhou a licitação da PRF.

O ex-diretor da PRF virou um dos principais investigados da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de Janeiro. Uma das suspeitas é que ele tenha usado a corporação para dificultar a locomoção de eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições, especialmente no Nordeste, reduto do petista.

A Polícia Federal também apura essa suspeita — no âmbito desse inquérito, Vasques foi preso no último dia 9. Antes de ser detido, o ex-chefe da PRF compareceu à CPI no dia 20 de junho para prestar depoimento e foi questionado sobre a sua relação com o ex-CEO da Combat Armor no Brasil.

O policial aposentado respondeu que conhecia Junot e que pediu emprego à empresa dele, sediada em Indaiatuba (SP), no início do ano, após deixar o comando da PRF.

— Ele (Junot) participou do processo licitatório e esteve lá na Superintendência, no Rio de Janeiro, se apresentando, é natural, como o empresário que ganhou a licitação, assim como outras empresas já ganharam os outros itens. Então, eu o conheci, sim — disse Vasques aos parlamentares.

Os deputados governistas o questionaram sobre um suposto cartão de visitas da Combat Armor que o apresentava como “vice-presidente” da companhia. Vasques disse que desconhecia essa informação e que não havia sido contratado pela empresa até aquele momento.

— Eu estive lá em Indaiatuba (sede da empresa). E, naquilo ali, eu não conheço quem que fez aquele material ali. Eu estou, inclusive, em processo, ainda procurando (emprego) e, se lá me chamar, eu não vejo nenhum problema, estou à disposição pra trabalhar — afirmou o ex-chefe da PRF.

Após a oitiva, a CPI aprovou as quebras de sigilo fiscal de Vasques, de Maurício Junot e da Combat Armor.

À CPI, Silvinei lamentou que os blindados estivessem fora de uso:

— Se estão parados, eu fico muito preocupado e triste, porque eu já saí do cargo faz seis meses, o colega que está lá é que deve responder. E fico mais triste ainda porque o Rio de Janeiro é um local que não está reconhecido como guerra — disse.

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