NO CONGRESSO

Sindicato rural apontado como financiador de atos golpistas é ligado a vice-líder de Bolsonaro

Aline Sleutjes é investigada pelo STF no inquérito dos atos antidemocráticos

Aline SleutjesAline Sleutjes - Foto: wikipedia

Uma associação de fazendeiros que tem ligação com a deputada Aline Sleutjes (Pros-PR) financiou dois ônibus para a ida de manifestantes golpistas a Brasília, no fim de semana do dia 8 de janeiro. A parlamentar foi vice-líder do governo de Jair Bolsonaro no Congresso e é investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura a organização e apoio a atos antidemocráticos ao longo dos últimos anos.

O Sindicato Rural de Castro (PR) — cidade natal de Sleutjes — é um dos seis CNPJs listados pela Advocacia Geral da União (AGU) como "financiador" do ato que resultou na invasão e depredação dos prédios do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal. Sob o argumento de reparar os "vultosos danos ao patrimônio público", a Justiça Federal de Brasília determinou o bloqueio de bens de R$ 6,5 milhões das pessoas físicas e jurídicas citadas pela AGU, incluindo o sindicato.

A deputada bolsonarista é tratada como a principal representante da entidade no Congresso Nacional. Em setembro do ano passado, o sindicato organizou uma reunião em sua sede em prol da candidatura dela ao Senado.

— Uma reunião de apoio à candidatura da nossa senadora Aline Sleutjes. E queremos fundamentalmente agradecer pelo serviço que ela já nos prestou como deputada federal e, com certeza, no Senado vai dar um salto, beneficiando não só a nossa região, como Campos Gerais, do Paraná e Brasil — diz o presidente da entidade, Eduardo Medeiros, no vídeo.

— Com certeza, é Aline e Bolsonaro — completa ele, que doou R$ 5 mil à campanha da parlamentar. A deputada, contudo, perdeu a disputa ao Senado para o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União-PR), e ficará sem mandato a partir de fevereiro.

O sindicato também usa a sua página na internet para divulgar a atuação legislativa da parlamentar, como o apoio dela a um projeto que previa novas regras ao mercado de gás natural do país.

Procurada, Sleutjes disse por meio de sua assessoria que não iria se manifestar sobre o assunto. Contatado por telefone e email, o sindicato também não se pronunciou.

Apoio a atos antidemocráticos
Aline Sleutjes explicitou em mais de uma ocasião seu apoio às manifestações antidemocráticas que não aceitam o resultado da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Sleutjes foi uma das apoiadoras de Bolsonaro a participar de ato que bloqueou uma rodovia em Santa Catarina, logo após a derrota do então presidente nas urnas. Na ocasião, fez uma transmissão ao vivo incentivando os protestos.

No fim de novembro, ela pediu, em audiência no Senado, uma intervenção militar e "ação rápida" antes da diplomação de Lula, no dia 12 de dezembro.

— Tudo que nós vimos nos últimos dias foi o clamor da população dizendo ‘SOS Forças Armadas, nos ouçam! Cuidem de nós! Por favor nos atendam! Nós não queremos perder essa nação verde e amarela — disse ela.

No mesmo mês, o sindicato rural divulgou um manifesto em apoio às manifestações nos quarteis, dizendo que o sistema democrático estava sob "ameaça" por ter um "Congresso omisso" e um STF "excessivamente ativista que nos últimos anos têm sido protagonista de ações antidemocráticas".

A deputada também fez apelos para que os manifestantes continuassem acampados na frente dos quarteis do Exército.

Em setembro de 2020, Sleutjes e outros nove deputados bolsonaristas tiveram os sigilos fiscais quebrados por determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes. Na época, eles foram incluídos no inquérito que apura o financiamento de atos antidemocráticos.

Interior do Paraná
Com 71 mil habitantes e a 157 quilômetros de Curitiba , Castro (PR), é a cidade de nascença da deputada e onde ela iniciou sua carreira política como vereadora por dois mandatos. Depois, ela tentou ser prefeita, mas não se elegeu.

O município é conhecido pela grande concentração de descendentes de holandeses, como é o caso da família de Aline. Com o predomínio econômico do agronegócio, a região é marcada pela produção de leite, gado e soja.

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