Sóstenes: com acordo para comandar Frente Evangélica, pretende dar uma diretoria a Eduardo Bolsonaro
Sóstenes já anunciou que pretende aproximar ainda mais o Palácio do Planalto da Frente Evangélica
O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) afirmou nesta segunda-feira que entrou em um acordo com o atual presidente da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), Cezinha de Madureira (PSD-SP), para ser o novo líder do grupo.
Segundo ele, o anúncio deve ser feito nesta quarta-feira logo após o culto que será promovido no plenário 2 da Câmara dos Deputados. Para garantir a "transmissão de cargo", Sóstenes foi até o gabinete de Cezinha na última quinta-feira tratar sobre a sucessão.
— A conversa foi tranquila. Está tudo alinhado com o Cezinha. Ao final da "Santa Ceia", ele faz a transição. Não tem nenhum problema. Só fizemos um comentário sobre as dificuldades que tivemos durante o recesso. Mas é página virada e vida que segue — disse Sóstenes, referindo-se à disputa interna que foi travada e superada, conforme ele, nas últimas semanas.
Em dezembro de 2020, Cezinha e Sóstenes combinaram um revezamento na presidência da bancada, cujo mandato, em tese, tem duração de dois anos. O primeiro presidiria em 2021, e o segundo em 2022. No fim do ano passado, no entanto, o acordo passou a ser contestado por lideranças evangélicas da Assembleia de Deus do Ministério Madureira, da qual Cezinha é representante. Em culto no qual o presidente Jair Bolsonaro estava presente, o bispo Samuel Ferreira, líder da Madureira, defendeu a recondução do deputado paulista ao posto.
Leia também
• Vice-presidente da Câmara anuncia filiação ao PSD
• Moro se manifestará contra 'erotização precoce de crianças' em carta a evangélicos
• 'Bolsonaro não é o candidato do coração dos evangélicos', diz antropólogo Juliano Spyer
A declaração irritou o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, da qual Sóstenes é membro. Malafaia cobrou o "caráter e a palavra" de Cezinha. O embate aumentou quando o deputado Abílio Santana (PL-BA), atual tesoureiro da Frente e pastor do Ministério Madureira, gravou um vídeo chamando o pastor de "cínico malafeia" e questionando a validade do pacto apalavrado em 2020.
A briga, que foi tornada pública por meio de áudios e vídeos vazados nas redes sociais, expôs um racha entre duas alas diferentes da Assembleia de Deus, a maior denominação pentecostal do Brasil em número de templos e seguidores.
Procurado, Cezinha da Madureira não quis comentar sobre o acordo firmado — ele tem mantido o silêncio desde que acrise foi instaurada no fim do ano passado. A sua assessoria, no entanto, confirmou que ocorrerá a cerimônia especial da "Santa Ceia" nesta quarta-feira - tradicionalmente, o culto costuma preceder a "consagração" do novo líder da bancada.
Após o entrevero com Malafaia, Abílio Santana afirmou que fez as pazes com o pastor ("ficou esclarecido o mal entendido") e confirmou o acordo entre Sóstenes e Cezinha ("eles têm se falado e são amigos").
Figura ilustre na bancada, o deputado Marco Feliciano (PL-SP) também disse que Sóstenes será o novo presidente da Frente.
Formado em teologia e no segundo mandato na Câmara, Sóstenes já anunciou que pretende aproximar ainda mais o Palácio do Planalto da Frente Evangélica. O plano é convidar os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Helio Lopes (PSL-RJ) — o filho 03 e o amigo do presidente Jair Bolsonaro, respectivamente — , para assumirem diretorias na bancada. Os dois são evangélicos da Igreja Batista, mas nunca foram atuantes no grupo.
— Ficou tudo zerado e vamos trabalhar que o ano é intenso. Focar na reeleição dos deputados evangélicos e no aumento da bancada o máximo possível — disse o deputado do DEM.
A bancada hoje conta com 115 deputados e 13 senadores. A meta dele é ampliar para 191 deputados e 27 senadores.
— Queremos chegar ao mesmo tamanho dos evangélicos na sociedade brasileira: um terço. Ainda somos subrepresentados no Parlamento.
Além de buscar a associação com o presidente Jair Bolsonaro, Sóstenes tem elaborado um plano para pulverizar as candidaturas de evangélicos em diferentes partidos ("para que eles não concorram entre si") e e para "fidelizar" ainda mais o eleitorado religioso.