"Todas as pessoas que tentaram dar golpe serão presas", diz Lula em ato do 1º de Maio
Presidente discursou no Vale do Anhangabaú, em São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, durante ato pelo Dia do Trabalhador, realizado na manhã desta segunda-feira (1º) por oito centrais sindicais, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, que todos os que tentaram dar um golpe contra a democracia no dia 8 de janeiro serão presos. Lula afirmou que o Brasil é um país que tem "democracia de verdade", e pediu também aos presentes que virem soldados contra as fake news.
— Todas as pessoas que tentaram dar golpe serão presas porque este país tem democracia de verdade — afirmou Lula.
Sob forte calor, o presidente lembrou que não se pode permitir que as mentiras continuem prevalecendo no país:
— Cada companheiro que tem um celular precisa ficar esperto com as mensagens mentirosas evitando repassá-las para para a frente. Isso pode prejudicar a vida das pessoas. A mentira nunca levou ninguém a lugar nenhum. Foi a verdade que derrotou o ex-presidente — afirmou.
O discurso de Lula ocorre na semana seguinte a leitura do requerimento no Congresso que autoriza criação de comissão para investigar ataques golpistas de 8 de janeiro. Durante meses, o governo evitou a abertura da investigação sob a alegação de que a CPI poderia concentrar as atenções do Congresso e atrapalhar o andamento de pautas consideradas importantes para a retomada do crescimento do país, como o novo arcabouço fiscal.
A postura dos governistas mudou após a divulgação de imagens do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, no Palácio do Planalto durante a atuação dos golpistas. As imagens levaram a saída do general.
Já sobre divulgação de notícias falsas, o Congresso também discute o PL das Fake News. O texto foi apresentado na última quinta-feira pelo relator do projeto, Orlando Silva (PCdoB-SP), e traz uma série de regras que, em caso de aprovação do projeto de lei, terão de ser cumpridas pelas plataformas de redes sociais e similares.
Críticas aos juros
Em meio aos pedidos de queda de juros feitos por sindicalistas, Lula endossou esses discursos dizendo que a taxa de juros no Brasil não controla a inflação, mas sim o desemprego. O presidente afirmou que os juros no patamar de 13,75% têm parte na situação em que vivemos atualmente no mercado de trabalho. São 39 milhões de desempregados.
— A taxa de juros não controla a inflação, mas controla o desemprego. Porque é responsável por parte da situação que vivemos atualmente — afirmou o presidente aos presentes no ato.
Lula reafirmou o aumento do salário mínimo para R$ 1.320,00, a partir de hoje, e disse que os ricos também ganham com isso, à medida que o trabalhador consome mais, girando a roda-gigante da economia, estimulando vendas do comércio e da indústria.
— Não é só o trabalhador que ganha. O trabalhador compra mais comida, estimula as vendas do comércio e da indústria. Isso gera mais emprego e move a roda gigante da economia. Até os mais ricos ganham com isso.
Lula criou nesta segunda-feira um grupo de trabalho para elaborar propostas para a regulamentação do trabalho por aplicativos. O decreto foi publicado em Edição Extra do Diário Oficial da União. O presidente disse no ato das centrais sindicais que não tem problema trabalhar em aplicativo, mas que a categoria precisa de seguridade social.
— Não tem problema trabalhar em aplicativo. Muitas vezes, o trabalhador não quer assinar a carteira. Mas precisa ter seguridade social — disse o presidente.
O petista afirmou que o governo estuda isentar o pagamento de imposto de renda da participação do lucro (PLR) das empresas recebida pelos trabalhadores.
— Por que os trabalhadores tem pagar IR se os patrões não pagam imposto sobre lucros e dividendos? Estamos atendendo o pedido das centrais sindicais e estudando isso para o próximo ano — afirmou.
Lula disse também que o programa Farmácia Popular vai voltar e que o Sistema Único de Saúde (SUS) vai ter a garantia de oferecer um médico especialista aos mais pobres.
Lula no ato do Dia do Trabalhador 2023 - Foto: Nélson Almeida/AFP
Sob forte calor, as centrais sindicais com oom o lema, “Emprego, Renda, Direitos e Democracia” as entidades trazem na pauta 15 reivindicações ao governo que tratam desde a política de valorização do salário mínimo até a regulamentação do trabalho por aplicativos e a defesa das empresas públicas.
Participaram do ato a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Intersindical (Classe Trabalhadora), Nova Central e Pública. À tarde, acontecem as apresentações musiciais.
O evento começou por volta das 10h, com falas dos representantes de movimentos negros pedindo mais representatividade. Mas os trabalhadores chegaram mais cedo. Eram esperadas cerca de 25 mil pessoas, segundo os organizadores.
— A luta não tem sido fácil. Precisamos mostrar que os trabalhadores estão unidos. Queriam acabar com os sindicatos — disse a cuidadora Ozenir Leite da Silva, de 55 anos, moradora de Mauá, que chegou ao local por volta de 9h. Ela trabalhou durante mais de 20 anos em sindicatos, entre eles o dos metalúrgicos de São Paulo, e acha importante marcar presença no ato.
Nos discursos, os sindicalistas criticaram o governo de Jair Bolsonaro e Michel Temer, quando o trabalhador perdeu direitos, e cobraram maior pressão sobre o presidente do Banco Central para queda de juros e elogiaram a isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 2.640,00. Também criticaram o desemprego e mostraram apoio ao MST, que tem ocupado propriedades privadas.
Houve ainda críticas à possível privatização da Sabesp e ao governador Tarcísio de Freitas, que está ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro participando da Agrishow, em Ribeirão Preto.
Apesar do apoio às ideias defendidas pelo governo federal, Miguel Torres, presidente da Força Sindical, garantiu que as centrais continuarão cobrando o presidente Lula.
— Estamos cobrando o governo. Queremos a política do salário mínimo que recupere o aumento real que não foi dado nos últimos quatro anos. Essa discussão continua aberta. Queremos participação politica dos trabalhadores nas decisões. Já tínhamos uma política dando certo, mas isso foi quebrado. Estamos repavimentando. Queremos um salário mínimo de R$ 1.492,00 para repor as perdas dos últimos quatro anos — declarou Torres.
Ele disse que as centrais não defendem a revogação da reforma trabalhista, mas revisão de alguns pontos. O presidente da Força lembrou que casos de trabalho escravo, que recentemente foram denunciados, são produtos da terceirização do trabalho. Torres afirmou que foi criado um grupo para discutir a situação dos motoristas e entregadores de aplicativos, outra reivindicação das centrais.
— Defendemos uma nova regulamentação da MEI e do PJ. Precisamos achar caminhos para reintegrar os profissionais ao mundo dos direitos trabalhistas.
Sergio Nobre, presidente da CUT, disse que a unidade das centrais sindicais e dos trabalhadores foi fundamental para derrotar o ex-presidente o fascismo no país, representado por Bolsonaro. Ele chamou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de 'picareta' que está sabotando o crescimento do país com juros altos.
— O movimento sindical vai iniciar campanha permanente pela queda de juros — disse Nobre.
Ricardo Patah, presidente da UGT e presidente do sindicato dos comerciários, pediu a desoneração da folha de pagamento e disse que é preciso taxar as plataformas chinesas, que tiram empregos no país.
Cargos e reuniões com Lula
A relação entre Lula e as centrais sindicais continua positiva. Tanto que sindicalistas e representantes dessas entidades vêm ganhando cargos nos conselhos do governo e nos fundos de pensão de empresas estatais.
Na semana passada, Lula recebeu as centrais no Palácio do Planalto para antecipar algumas das medidas em benefício dos trabalhadores anunciadas em pronunciamento em rede nacional de tevê ontem. As centrais foram ignoradas, e, em alguns casos, até mesmo atacadas nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Ainda assim, há uma disputa por espaço entre os diferentes grupos sindicais, com críticas abertas a uma suposta prevalência da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em nomeações e nas tratativas com o Executivo, conforme mostrou reportagem de O GLOBO, neste domingo.
Lula reafirmou durante o ato que haverá aumento gradativo de isenção de IR para a faixa de trabalhadores que ganham até R$ 5 mil até 2026, ano em que termina seu mandato. Trata-se de uma promessa de campanha para agradar à classe média, onde Lula ainda sofre resistências.
O presidente também disse que já está retomando a política de recuperação e valorização permanente do salário mínimo, através de um projeto de lei. O reajuste do mínimo deverá considerar a inflação do ano (medida pelo INPC) e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), dos dois anos anteriores. Trata-se da mesma política que vigorou nos governos anteriores do PT e que evitava perdas salariais.