Tornozeleira, minuta "fantasiosa" e Disney: Anderson Torres na CPI do 8 de janeiro em sete pontos
Ex-ministro de Bolsonaro disse não ter sido avisado sobre ataques antidemocráticos e chamou minuta golpista de "aberração jurídica"
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Em depoimento à CPI do 8 de Janeiro, nesta terça-feira (8), o ex-ministro da Justiça Anderson Torres chamou a minuta encontrada em sua casa de "fantasiosa" e "aberração jurídica".
Torres afirmou ainda que não foi avisado sobre as manifestações do 8 de janeiro e foi questionado sobre a ida à Disney com a família às vésperas dos ataques, quando ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Veja em sete pontos como foi o depoimento:
Uso de tornozeleira
O depoimento começou por volta das 9h40 e avançou até o início da noite. Torres depôs usando tornozeleira eletrônica, uma das medidas cautelares estabelecidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao mandar soltá-lo da prisão, em maio.
A defesa do ex-ministro havia solicitado ao Supremo que Torres fosse dispensado de usar o aparelho de monitoramento durante a oitiva, o que não foi atendido. Moraes autorizou que o ex-ministro fosse ouvido na condição de testemunha e pudesse ficar em silêncio, caso as perguntas pudessem prejudicá-lo ou incriminá-lo.
Minuta: 'fantasiosa' e 'aberração jurídica'
Logo no início da sessão, Torres falou sobre formação acadêmica, trajetória e tratou sobre a minuta golpista encontrada em sua casa, em mandado de busca e apreensão cumprido em 10 de janeiro, dois dias após a ação golpista na Praça dos Três Poderes. Ele negou autoria e disse desconhecer o autor.
— A polícia encontrou um texto apócrifo, sem data, uma fantasiosa minuta, que vai para coleção de absurdos que constantemente chegam aos detentores de cargos públicos. Vários documentos vinham de diversas fontes para que fossem submetidos ao ministro. Em razão da sobrecarga de trabalho eu normalmente levava pasta de documentos para casa — disse, antes de afirmar não saber a autoria do texto:
— Basta uma breve leitura para que se perceba ser imprestável para qualquer fim, uma verdadeira aberração jurídica. Este papel não foi para o lixo, por mero descuido. Não sei quem entregou este documento apócrifo e desconheço as circunstâncias em que foi produzido. Sequer cogitei encaminhar ou mostrar para alguém.
Viagem à Disney durante o 8 de janeiro
Ao falar sobre o dia 8 de janeiro, o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal afirmou que sua viagem aos Estados Unidos foi programada em novembro e que não recebeu nenhum alerta acerca dos atos de vandalismo ocorridos na praça dos Três Poderes.
— Essa viagem foi programada com antecedência e as passagens compradas em 21 de novembro. Se eu tivesse recebido qualquer alerta não teria viajado.
Durante a sessão, o deputado Rogério Correia (PT-MG) leu documento obtido pela CP, que indica que Torres teria recebido um alerta em 6 de janeiro, quando ele ainda não havia ido aos EUA. O ex-ministro disse que o documento "foi transmitido para o gabinete do secretário e já tinha saído da secretaria". A viagem de Torres foi ironizada durante a CPI.
Bloqueios em rodovia
A relatora da CPI, Eliziane Gama, anunciou que vai pedir à comissão que seja feita uma acareação entre Torres e Leandro Almada, superintendente da PF na Bahia.
O objetivo é ter mais informações sobre o bloqueio nas rodovias, que teriam o objetivo de prejudicar a locomoção de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A região Nordeste concentrou um terço das blitzes no domingo de votação.
Almada, que recebeu a visita do então ministro da Justiça na semana que antecedeu à eleição, afirmou em depoimento à PF que recebeu um pedido do então ministro da Justiça para reforçar o policiamento nas ruas em 30 de outubro.
– Almada diz que não foi apenas uma visita. Anderson Torres afirma nesta comissão que isso não é verdade. Estou protocolando uma acareação entre os dois para que a gente possa dirimir esses fatos e portanto trazer ao conhecimento da comissão o que realmente ocorreu – declarou Eliziane.
Reencontro com ex-ministros
Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Torres reencontrou outros ex-integrantes da Esplanada na CPI. O senador Sergio Moro (União-PR), que ocupou a mesma pasta, foi até a mesa e lhe apertou a mão. Moro é suplente da CPMI do 8 de janeiro.
Ex-titular do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (PL-RB) também foi à mesa cumprimentar Torres, assim como o deputado Ricardo Salles, que foi titular do Meio Ambiente. A ex-ministra Damares Alves, por sua vez, elogiou Torres, afirmando que a família de Torres sentiria "orgulho de sua participação" na CPI, mostrando que "não é bandido, golpista".
Participação de Flávio Bolsonaro
Logo no início da sessão, o presidente do colegiado, Arthur Maia, leu a decisão do STF que impede contato pessoal entre Torres e os senadores Flávio Bolsonaro e Marcos Do Val. A Advocacia do Senado, por sua vez, disse que a determinação não impede que eles estejam no mesmo local, mas recomendou que Flávio e Do Val não participassem da sessão.
Flávio, entretanto, participou da sessão, afirmando que sua "palavra jamais poderia ser calada por uma decisão judicial". À tarde, Flávio Bolsonaro fez pronunciamento sobre a coragem de Torres.
Discussões e tapa na mesa
Deputados e senadores também se envolveram em bate-boca. O deputado Marco Feliciano (PL-SP) se envolveu em uma briga com a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que disse que tem um filho de esquerda e reprovou as falas do deputado. Feliciano então bateu na mesa. Após isso, deputados e senadores governistas, como a própria relatora da CPI, senadora Eliziane Gama PSD-MA), o senador Rogério Carvalho (PT-SE) e o deputado Duarte (PSB-MA), começaram a protestar contra Feliciano.
O deputado federal Abilio Brunini (PL-MT) pediu que seja investigado suposto cuspe em Feliciano. Ele acusou o senador Rogério Carvalho (PT-SE) pelo ato. Arthur Maia pediu análise na fita de gravação.