Logo Folha de Pernambuco

Coluna

Um ponto de vista do Marco Zero

Luiz Otávio CavalcantiLuiz Otávio Cavalcanti - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

A partir de hoje, passo a colaborar, semanalmente, com esta Folha de Pernambuco. Com a alegria e a paixão próprias do espírito pernambucano.

Pernambucos e pernambucanos
Pernambucano é geralmente magro. Apaixonado no temperamento. Semeador na cultura. Magro, como João Cabral de Melo Neto. Excepcionalmente gordo, como Ascenço Ferreira. Mantém o espírito provinciano no sentido de valorizar sua terra e de integrar-se ao todo nacional. Como disse Nilo Pereira: “Grandes provincianos foram aqueles que lutaram pela integração. Não perderam o sentimento da terra.”

Revolucionários e reformistas
Pernambuco produziu três revoluções, republicanas e constitucionalistas, em menos de cinquenta anos: 1817, a revolução dos maçons; 1824, a Confederação do Equador; e 1848, a única revolução verdadeiramente social, segundo Amaro Quintas. Pernambuco passava fome. Por causa dos continuados levantes contra a Coroa. Que passou a perseguir a capitania de Duarte Coelho Pereira. Depois de amputá-la dos territórios correspondentes ao atual estado de Alagoas. E ao oeste da Bahia.

O Irredentismo nos custou caro. E deixou uma lição: promover uma mudança de mentalidade para a negociação, o acordo, o compromisso. Veio de dentro para fora. Com Gervásio Pires. E de fora para dentro. Com a espada de Caxias, o convencimento de José Bonifácio e o gabinete de conciliação do Marquês do Paraná, em 1853.

O tempo é mestre. E o período imperial gravou, em Pernambuco, três tipos políticos: o revolucionário, Frei Caneca; o conciliador, Marquês de Olinda, que participou de vários gabinetes; e o realista, Gervásio Pires. Segundo Luis Delgado, este encarnou o pragmatismo pernambucano. O gosto de fazer as coisas, próprio dos nascidos nesta terra. Resolvendo problemas. Para tal, chegou a se corresponder com o Imperador.

Utopia
A força da imaginação dos pernambucanos autoriza as pessoas a não enxergarem apenas seca e cacimba. Numa mitologia oligárquica. Mas a força de outra realidade: moda, culinária, design, cinema, resort, a gestão educacional, software. Espaço onde há o senso do lúdico, da utopia. 
Porque Pernambuco tem pele. Se arrepia. Pernambuco, como o Nordeste, é utopia. Nos seus limites e possibilidades. Na sua diversidade. Tão brasileira. Romanceada por Raimundo Carrero, sanfonada por Luiz Gonzaga, filmada por Kleber Mendonça e Glauber Rocha. 

O inventor da Bossa Nova foi um nordestino baiano, João Gilberto. Os inventores do tropicalismo foram os nordestinos baianos, Gil e Caetano. Gil disse que uma de suas inspirações foi a banda de pífanos de Caruaru. No cinema: o nordestino baiano, Glauber Rocha, e o nordestino pernambucano, Kleber Mendonça. O cinema novo e o cinema contemporâneo. 

Glauber era dionisíaco, Kleber é apolíneo. Glauber era alegórico, Kleber é reflexivo. Glauber era mitológico, Kleber é digital. Glauber falava gritando, Kleber fala mansinho. Glauber desvendava a essência do povão, Kleber documenta a rotina do som ao redor. Glauber e Kleber. Nordestinados. Brasileiros. Plantados no chão que os criou. A Bahia de todos os milagres. E o Capibaribe de tantos poetas.

Veja também

Polícia prende suspeito de matar pessoas em situação de rua em várias cidades da França
EUROPA

Polícia prende suspeito de matar pessoas em situação de rua em várias cidades da França

Como a eleição em Olinda aproximou Raquel Lyra de Kassab e pavimentou ida ao PSD
PERNAMBUCO

Como a eleição em Olinda aproximou Raquel Lyra de Kassab e pavimentou ida ao PSD

Newsletter