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INVESTIGAÇÃO

Viagem de Uber, mensagens no ''zap'' e vídeo de reunião: como a PF identificou os alvos de operação

Elementos reunidos em investigação confirmam encontros em que ex-presidente tratou de minuta golpista e apontam monitoramento de Moraes

O ex-presidente Jair Bolsonaro O ex-presidente Jair Bolsonaro  - Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

A operação da Polícia Federal (PF) desta quinta-feira (8) que mirou o ex-presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus aliados, suspeitos de uma tentativa de golpe de Estado, tiveram como base mensagens de textos, a gravação de uma reunião ministerial, registros de entradas em prédios públicos, dados de celulares e até pedidos de Uber. As provas foram citadas na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação Tempus Veritatis.

Monitoramento de Moraes
Diálogos entre tenente-coronel Mauro Cid e o coronel Marcelo Câmara, ex-assessores de Bolsonaro, indicam, por exemplo, que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tinha seus passos monitorados pelo grupo suspeito de planejar um golpe. Ao longo de vários dias, os dois trocam informações sobre o destino de uma pessoa.

As localizações indicadas conferem com os locais onde o ministro do STF estava nos respectivos dias. Em 15 de dezembro, por exemplo, Câmara encaminhou mensagem com um itinerário: "Viajou para São Paulo hoje (15/ 12), retorna na manhã de segunda-feira e viaja novamente pra SP no mesmo dia. Por enquanto só retorna a Brasília pra posse do ladrão. Qualquer mudança que saiba lhe informo".

Minuta golpista
As mensagens também confirmam relato feito por Cid, em sua delação premiada, sobre a elaboração de uma minuta de decreto golpista. Como revelou O Globo, o ex-ajudante de ordens disse que o então presidente apresentou aos comandantes das Forças Armadas um documento com uma proposta de intervenção militar e que o ex-presidente inclusive sugeriu alterações no documento.

Na reunião, conforme mostrou no ano passado a colunista Bela Megale, o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, teria dito a Bolsonaro que sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento do então presidente. Já o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, afirmou que não embarcaria no plano golpista. Segundo o relato, o chefe da Aeronáutica na época, brigadeiro Carlos Baptista Júnior, também não manifestou apoio ao plano.

Em dezembro do ano passado, depois da reunião, o ex-ministro e general da reserva Walter Braga Netto enviou mensagem para o major reformado Ailton Barros afirmando que ele deveria elogiar Garnier e criticar o comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior.

"As referidas mensagens vão ao encontro, conforme aponta a Polícia Federal, dos fatos descritos pelo colaborador Mauro Cid, que confirmou que o então Comandante da Marinha, o Almirante Almir Garnier, em reunião com o então Presidente Jair Bolsonaro, anuiu com o Golpe de Estado, colocando suas tropas à disposição do Presidente", escreveu Moraes.

Em áudio enviado para Freire Gomes, no dia 9 de dezembro, dois dias após a reunião, Cid afirmou que Bolsonaro "enxugou o decreto" e tornou ele mais "resumido".

— O que que ele fez hoje de manhã? Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerandos que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais resumido. — disse o então ajudante de ordens.

Registros de entrada
Moraes também cita na decisão como elemento registros de entrada dos palácios da Alvorada e do Planalto como comprovação da reunião em que a minuta golpista foi tratada. No dia 19 de novembro de 2022, o então assessor especial da Presidência Filipe Martins, o advogado Amauri Feres Saad e o padre José Eduardo de Oliveira teriam discutido a minuta com Bolsonaro, de acordo com o relato de Cid.

"Da reunião ocorrida no dia 19/11/2022, participaram Filipe Garcia Martins Pereira e Amauri Feres Saad, além do padre José Eduardo de Oliveira e Silva, como indicam os controles de entrada e saída do Palácio do Planalto", escreveu o ministro.

Depois, em 7 de dezembro, o documento teria sido apresentado a Garnier, Freire Gomes e ao então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. "No encontro realizado no Palácio do Planalto, em 07/12/2022, a representação da PF indica a participação de Filipe Garcia Martins Pereira, Amauri Feres Saad, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, Mauro Cid, Almir Garnier Santos e Freire Gomes, conforme controle de entradas e saídas do Palácio do Planalto", afirmou Moraes.

Em outro momento, o ministro afirma que há registros de que Filipe Martins esteve em "diversos dias" entre novembro e dezembro no Alvorada, "quase sempre por muitas horas, o que demonstra que seu contato com o então presidente no período foi frequente e relevante para a execução de atos que visavam o Golpe de Estado".

Dados telefônicos
A presença de Amauri Feres Saad na reunião de dezembro em que a minuta foi discutida também foi comprovada pelos registros do seu celular. A PF conseguiu os dados da comunicação do seu celular com torres de telecomunicações, as chamadas Estação Rádio Base (ERB). De acordo com a delação de Cid, Saad teria auxiliado Martins na elaboração do texto apresentado a Bolsonaro.

Vídeo de reunião no Planalto
A PF conseguiu acesso a um vídeo de uma reunião ministerial realizada por Bolsonaro em 5 de julho de 2022 no Planalto. A gravação estava em um computador apreendido na casa de Mauro Cid. Para a corporação, há uma "dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo".

Na ocasião, por exemplo, Augusto Heleno, que era ministro da Gabinete de Segurança Institucional (GSI), afirmou que se "tiver que virar a mesa é antes das eleições" e que era necessário agir "contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas". Heleno também relatou, segundo a PF, que teria orientado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a "infiltrar agentes nas campanhas eleitorais".

Viagem de Uber
A PF também obteve registros do aplicativo Uber usados pelo padre José Eduardo de Oliveira e Silva, que mostra que ele fez pelo menos cinco viagens até a casa alugada pelo PL que serviu como comitê de campanha para Bolsonaro e que, depois da eleição, teria sido utilizada como um "QG do Golpe". A PF ainda afirmou que há um "vínculo comprovado" de Silva com Martins.

Sacerdote da Diocese de Osasco (SP), o padre José Eduardo de Oliveira e Silva também aparece nos registros de entrada e saída do Palácio do Planalto.

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