ENTREVISTA

Vice de João Campos, apoio a Lula em 2026: presidente nacional do PSB analisa cenário eleitoral

Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, afirmou que o partido apoia o PT em cinco capitais e pontua: "Recife não é uma ilha"

Carlos Siqueira, presidente nacional do PSBCarlos Siqueira, presidente nacional do PSB - Foto: Humberto Pradera/PSB

De passagem pelo Recife, onde veio para o anúncio do vice na chapa de João Campos, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, falou com exclusividade para a Folha. Nesta entrevista, afirmou que o acordo para o PT abrir mão da vice do prefeito recifense foi consequência dos demais entendimentos nacionais envolvendo PT e PSB. “Vamos apoiar o PT em cinco capitais”, disse Siqueira, adiantando: “Recife não é uma ilha”.

Acordos partidários não são exclusivos de um Estado ou município. Como consequência desse acordo do PSB com o PT no Recife, onde o PSB cedeu também ao PT?

Em muitos lugares. Entre colégios eleitorais expressivos e de porte médio, o PSB está apoiando o PT em cerca de 118 municípios, incluindo cinco capitais: Porto Alegre, Teresina, Fortaleza, Natal e Goiânia. De capitais, o PT nos apoia no Recife, Curitiba e São Luiz.

Quem não acompanha o dia a dia da política imagina que Recife é uma ilha, mas as alianças são nacionais...

Esse sempre foi o nosso argumento em todas as negociações. A negociação no Recife com o PSB não poderia ser apenas sobre o Recife, mas sobre o conjunto da relação política eleitoral que mantém o PSB com o PT em todo o País.

Quem entende de política vai nessa direção, mas no caso de São Paulo é verdade que a manutenção da Tabata foi uma exigência do PT, que apoia o Boulos, para provocar um segundo turno?

Não. A candidatura da deputada Tabata foi uma iniciativa dela, que tem todo o direito ser candidata e o partido acha interessante que ela seja candidata. É uma jovem na cidade mais populosa e mais importante do País. Ela decidiu ser candidata e nós apoiamos. Imaginávamos até que houvesse uma pressão para que apoiássemos o Boulos, mas, ao contrário, na reunião que tivemos na semana passada com o presidente Lula, ele mesmo puxou a questão e disse que era importante a candidatura de Tabata. Não foi uma exigência do partido, nem dela. O partido concorda, mas ela quer ser candidata e tem o direito.

No início se especulou que havia pressão, que Lula não estava gostando dessa candidatura de Tabata porque estava prejudicando Boulos. Agora passaram a enxergar a coisa de outra forma?

Eu posso te dizer que há negociações com partidos que processaram mais com a presidente Gleisi Hoffmann, e ela nunca me falou na hipótese de solicitar a retirada da candidatura de Tabata. A única vez que se tocou nesse assunto foi na semana passada, em torno dessa questão do Recife, diretamente com o presidente Lula e com a presidente Gleisi e com a presença de João, da minha e do ministro Padilha. O próprio presidente tocou na questão do direito dela de ser candidata.

Sob o olhar das pesquisas, onde PSB e PT estão bem?

O PT não tem candidato em São Paulo, no Rio também não, e em Belo Horizonte o PT tem um candidato. Lá, nós não podemos apoiar porque tivemos um compromisso com o MDB. O Baleia [Rossi], presidente do MDB, solicitou esse apoio e nós estamos apoiando, mas até o momento não vai muito bem.

Se bem que essa questão de pesquisa pode ser alterada até a semana da eleição. Os nossos candidatos de capitais, no caso o PSB, são de primeiro a segundo lugar nas pesquisas. Recife primeiro, São Luiz segundo, e Curitiba segundo também, embora - tirando Recife, as outras duas capitais se apresentam como eleições muito difíceis.

Uma porque concorre com o próprio prefeito, o caso de São Luiz, o outro é porque o candidato do PSB no Sul, o ambiente não é dos melhores para a esquerda. Mas são eleições possíveis, não são eleições perdidas, são eleições competitivas - todas elas. Estamos com um quadro com cerca de mil candidaturas; era cerca de 1.128, mas acredito que no final das convenções, algumas composições chegarão a 1.000, 1.050 candidaturas a prefeito no País. O cenário é bom, levando em consideração o histórico de eleições municipais do PSB.

No Recife, há interpretações de que o PT saiu fragilizado quando não emplacou a vice de João. Qual a sua interpretação?

A política é uma questão de correlação de forças. Muitos lugares que o PT, no passado, tinha correlação de forças, estando muito forte em cidades e estados, colocava o titular e o vice do seu próprio partido, porque tinha força pra isso. Não quero dizer que o PT de Pernambuco não tenha força.

É um partido que tem deputado federal, tem dois senadores. Mas o prefeito vem fazendo uma administração de muito sucesso e achou desde o início que poderia fazer a sua escolha, e disse isso diretamente ao presidente Lula, sendo muito sincero. O presidente entendeu e o PT teve alguma resistência, mas ao longo do período reconheceram que poderiam ouvir e isso foi muito. Lá em Fortaleza, o PT faz questão que o vice seja do PSB, porque precisa dessa composição. Afinal, o PSB se tornou um partido importante também em Fortaleza e no Ceará.

Há uma leitura de que o presidente Lula facilitou a vida de João Campos, sem fazer nenhum tipo de pressão ou exigência. Será que isso tem ligação com 2026?

Eu não sei se o presidente teve esse raciocínio, mas eu imagino que ele tenha pensado em 2026, em função dele próprio ser candidato à reeleição, e de ter o apoio não só no Recife do PSB, como teve na eleição passada, mas em todo o País, que é um compromisso natural em função de estarmos no governo, de termos o vice-presidente da República. Eu acho que é natural que ele raciocine que é importante que mantenha o PSB nessa linha de estarmos juntos em 2026. Certamente, se ele for candidato à reeleição, nós estaremos com ele.

Em Pernambuco, Lula também faz gestos com a governadora Raquel Lyra, que está na outra ponta. É possível que Lula queira o apoio de João e da governadora?

Eu tenho a impressão de que a governadora está num partido de oposição, não é? Que inclusive promete ter candidato à presidência da República. Não sei qual vai ser o destino dela, se vai continuar nesse partido que ela participa ou em outro. Porém, o certo é que o PSB está na coligação dele e estará em 2026. Agora, o que vai acontecer com a governadora, seu partido e suas oposições, só o tempo poderá nos dizer.

Lula tem dado um tratamento especial a Pernambuco, mas os prefeitos do PSB reclamam que não são bem tratados pela governadora...

Essa relação administrativa independe de partidos. Essa visão de tratar adversários políticos está à altura do cargo que exerce. O presidente Lula, não só nesse governo como nos anteriores, trata os governadores e os prefeitos de uma maneira institucional. Essa é a natureza da relação civilizada das diferentes instâncias do governo. Uma coisa é a disputa eleitoral. Passou a eleição, o governador e presidente são de todos, devem manter uma relação institucional normal.

O prefeito de Garanhuns, do PSB, foi a primeira vítima de Raquel. Ela o tratou muito mal, inclusive no Festival de Inverno do ano passado. Agora, criou um festival para concorrer com Garanhuns. Ele seria o exemplo mais atual dessa relação difícil de governadora com os prefeitos do PSB?

Eu fiquei sabendo disso e achei errado por duas razões: primeiro porque o prefeito é gestor de uma cidade. Quando se tem uma relação e o respeito ao governante do outro partido, se dá, sobretudo, pelo respeito à população que o elegeu. Quando ele se elege, ele representa uma população que precisa ser respeitada. Quando se desrespeita o governante, você está desrespeitando o eleitor que elegeu aquele prefeito e o governador, que eventualmente é discriminado. No caso de Garanhuns, é um festival tradicional, que é de sucesso e não há razão de criar nenhuma concorrência, muito menos descriminar ou deixar de ajudar. É uma obrigação do Governo do Estado, fazendo uma parceria correta - como sempre foi feito nos governos do PSB.

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