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8 de janeiro

Vídeos gravados por manifestantes evidenciam caráter golpista de atos do 8/1

Conteúdo de celulares apreendidos mostra pedidos de intervenção militar e comemoração por destruição de patrimônio

Manifestações do dia 08 de janeiro Manifestações do dia 08 de janeiro  - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Fotos e vídeos feitos pelos próprios manifestantes durante o 8 de janeiro, além de mensagens de texto e áudios trocados antes e durante os atos, evidenciam o caráter antidemocrático do protesto e contradizem o discurso de que a intenção da mobilização era pacífica. Os dados foram coletados pela Polícia Federal (PF) nos celulares dos detidos, e parte deles tem sido utilizada como argumento para a condenação dos primeiros réus.

Diversos integrantes, por exemplo, mencionam um pedido para uma intervenção das Forças Armadas e demonstram o interesse de derrubar o governo eleito. Também há comemoração pela destruição do patrimônio público. O conteúdo dos celulares ainda revela a organização dos atos. Apesar da coleta do material, que está sob análise do Judiciário, as defesas negam a intenção golpistas.

Um dos manifestantes que demonstrou o objetivo dos atos de forma mais explícita foi Ilson Oliveira, que gravou um vídeo de dentro do plenário do Senado. Nas gravação, é possível ouvir a frase "se não quebrar, as Forças Armadas não vêm". Também no Senado, Fátima Pleti enviou um áudio defendendo "intervenção militar já" e gravou a si mesma cantando "Forças Armadas salvem o Brasil".

O mesmo grito de "Forças Armadas salvem o Brasil" foi repetido de dentro do Palácio do Planalto, no momento que a Polícia Militar começou a retomar o controle do local, conforme vários presentes filmaram.

Ainda na manhã do dia 8, Fernando Marinho gravou um vídeo afirmando que o povo iria "tomar o poder" naquele dia e que se as Forças Armadas quisessem "apoiar", eles estariam "de braços abertos para recebê-la".

Clayton Nunes deixou a intenção clara já em sua foto de perfil no WhatsApp, com um Papai Noel vestido de militar dizendo: "É intervenção militar sim". No mesmo aplicativo, Marcos Barreto tinha foto que apresentava uma ação militar como "plano A" e um protesto no Congresso como "plano B".

Jesse Leite disse, em vídeo gravado na rampa do Congresso, que "as Forças Armadas estão conosco". Depois, dentro do local, afirmou que "esse povo é pacífico só até certo ponto" . Ressaltou que eles somente iriam sair dali quando tirassem "esse ladrão", uma referência a Luiz Inácio Lula da Silva, empossado na Presidência poucos dias antes.

Destruição comemorada
Diversos registros também contradizem a alegação de que não havia intenção de cometer vandalismo. Sérgio Resende afirmou, dirigindo-se a "quem sonhava ver o STF invadido", que o tribunal estava "todo quebrado". Dirce Rogerio também disse que o STF estava "todo quebrado" e acrescentou que a sua "luta de mais de quatro meses" tinha acabado e não tinha sido "em vão".

No teto do Congresso, Raquel Lopes declarou que "a primeira batalha foi ganha" e que "povo subiu e quebrou tudo". Dentro do Planalto, Ana Paula Rodrigues gravou vídeo dizendo que o grupo iria "ficar aqui" e que iria "quebrar tudo".

Grupo usou códigos
Em um grupo de WhatsApp, do qual Regina Carvalho fazia parte, uma pessoa não identificada afirmou no dia 7 de janeiro que era a hora de "tomar o poder". Outra pessoa declarou que não queria mais o código-fonte das urnas eletrônicas, mas sim "tomar o poder", incluindo o STF e o Congresso, e "derrubar o ladrão".

No mesmo grupo, a PF considera que os participantes utilizaram códigos para disfarçar o planejamento da manifestação golpista. O acampamento em frente ao Quartel-General do Exército seria o "hotel", e a Praça dos Três seria a "praia".

"Tem que convenser (sic) pessoas ta fraco para ir a praia cuidado com o pessoal do hotel", escreveu uma pessoa no dia 7, preocupada em reunir mais pessoas. "aqui está cheio muitos ônibus chegando...mas estamos concentrando no exército amanhã vamos p praia", disse outro usuário. "Vms congestionar essa praia", reforçou uma mensagem.

Após a manifestação, houve uma orientação para que as mensagens do grupo fossem deletadas.

Outras pessoas também revelaram seu planejamento. No dia 30 de dezembro, Alethea Soares gravou vídeo dizendo que ia para Brasília e que "ele não vai subir a rampa", frase utilizada por bolsonaristas para afirmar que Lula não tomaria posse. Durante o dia 8, gravou vídeo dizendo: "pessoal já invadiu, o Congresso já é nosso (....) pensou que a gente não ia dominar".

No dia 6, Reginaldo Garci enviou um áudio a um contato dizendo que estava a caminho de Brasília e desejando que corresse "tudo bem" lá e que eles conseguissem "fazer uma mudança". Dois dias depois, gravou a invasão do Congresso e disse que "é assim que se faz, vamos retomar o Brasil".

"Não deu certo a invasão"
Após os prédios públicos serem retomados, Rosely Monteiro enviou áudio a um contato dizendo que "não deu certo a invasão" e que contou que estava sendo presa. Antes, em outro áudio, ela havia dito que tinha ido para a "guerra".

Defesas negam acusações
O advogado Helmar Amâncio, que defende Dirce Rogerio, afirmou que ela "em momento algum afirmou ou celebrou atos de depredação". Helio Garcia, que defende Fátima Pleti, declarou que ela "nunca concordou com os atos de vandalismo que danificavam o Congresso Nacional".

Como resposta ao laudo da PF, a defesa de Garcia afirmou ao STF que o documento mostra que ele foi um mero "peão do jogo político".

Em depoimento, Ilson Oliveira afirmou que ele entrou no Senado apenas para se proteger de bombas. Fernando Marinho disse que entrou no Planalto procurando abrigo, mesma justificativa apresentada por Marcos Barreto.

Nas alegações finais, a defesa de Clayton Nunes afirmou que ele não tinha a intenção de depor o governo. Jesse Leite afirmou que estava se manifestando pacificamente. Sergio Resende disse que não atentou contra a democracia.

Raquel Lopes afirmou que não cometeu nenhum ato de vandalismo. Ana Paula Rodrigues e Alethea Soares afirmaram que estavam se manifestando por mais democracia.

A defesa de Regina Carvalho considerou a denúncia contra ela genérica e inepta. Rosely Monteiro afirmou que a manifestação era pacífica.

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