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Julgamento

Voto de Mendonça contra Silveira irrita evangélicos: "estamos decepcionados", diz Malafaia

Ministro indicado por Bolsonaro ao STF foi a favor de condenação de deputado aliado do presidente

O novo ministro do STF, André MendonçaO novo ministro do STF, André Mendonça - Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O voto do ministro André Mendonça do Supremo Tribunal Federal (STF), que também foi favorável à condenação do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), decepcionou o presidente Jair Bolsonaro e irritou evangélicos e aliados do Palácio do Planalto. Segundo interlocutores da Presidência, a expectativa era que o segundo ministro indicado por Bolsonaro à Corte pedisse vista do processo, o que interromperia o julgamento.

Com o voto de Mendonça nesta quarta-feira (20), a Corte, por dez votos, condenou Silveira a 8 anos de prisão por ameaças e incitação à violência contra os integrantes do Supremo e determinou a perda de mandato parlamentar. Outro indicado por Bolsonaro ao STF, Kassio Nunes Marques foi o único a votar pela absolvição do deputado.

Segundo interlocutores, Bolsonaro, que vem defendendo publicamente Silveira, ainda não se manifestou após o voto de Mendonça nem mesmo de forma reservada.  Antes, avisou a aliados que iria acompanhar o julgamento do Palácio da Alvorada, para onde se deslocou após chegar de viagem ao município de Rio Verde, em Goiás. O presidente, segundo relatos, demonstrava apreensão sobre como o seu ministro "terrivelmente evangélico" se posicionaria.

Bolsonaro pretende usar a abertura das duas próximas vagas no STF para a disputa eleitoral, argumentando que ele, se mantendo presidente, poderá fazer uma Corte mais conservadora. Com o voto contrário de Mendonça, considerada uma "traição", o titular do Planalto tem essa sua estratégia colocada em xeque.

Para pessoas próximas à família Bolsonaro, Mendonça usou o caso de Daniel Silveira para se posicionar dentro do STF e buscar o respeito de seus pares na Corte.

Mendonça votou pela condenação de Silveira à pena de dois anos em regime aberto e multa de R$ 91 mil pelo crime de coação previsto no artigo 344 do Código Penal, divergindo em parte do relator, Alexandre de Moraes, sobre a aplicação do crime previsto da Lei de Segurança Nacional. Sobre a pena, Mendonça acabou derrotado, pois a maioria votou com Moraes.

O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, reagiu à Mendonça e disse que o "mundo evangélico" está decepcionado. Malafaia foi uma das lideranças que defendia a indicação do ex-Advogado Geral da União e pastor presbiteriano para a Corte. A sabatina de Mendonça no Senado só foi marcada quatro meses após ser indicado por Bolsonaro, visto que o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (União-AP), resistia em dar andamento. A pressão de evangélicos ajudou a destravar.

"Na minha opinião, ele (Mendonça) só tinha duas saídas: pedir vista ou votar contra. Ele não tinha outra saída. Há uma indignação generalizada do mundo evangélico. Decepção total", reagiu Malafaia.

Nas redes sociais, aliados do presidente também se insurgiram contra Mendonça. O deputado Marco Feliciano (PL-SP), também pastor, também reagiu: "Terrivelmente desapontado." "Quem diria que Kássio Nunes acertaria e André Mendonça erraria tanto", escreveu a deputada Carla Zambelli (PL-SP).

Em conversas reservadas em dias que antecederam o julgamento, o deputado Daniel Silveira dizia que não tinha expectativa de se livrar da condenação. Porém, demonstrava confiança sobre os votos de Kassio Nunes e André Mendonça, indicados por Bolsonaro. O parlamentar, porém, negava que vinha procurando os magistrados para votarem a seu favor.

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