Alimentos ultraprocessados: o que são, como reconhecer e quais os seus malefícios para a saúde
Os ultraprocessados correspondem a 18,4% das calorias ingeridas diariamente pelos brasileiros
Um estudo publicado no início do mês de novembro, no American Journal of Preventive Medicine, trouxe novas e alarmantes informações sobre os alimentos ultraprocessados. De acordo com a pesquisa realizada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), Fiocruz, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidad de Santiago de Chile, o consumo desse tipo de produto esteve ligado a 57 mil mortes no Brasil em 2019.
Os números revelados pela pesquisa acendem um alerta, uma vez que os ultraprocessados representam 18,4% das calorias ingeridas diariamente pelos brasileiros a partir dos 10 anos de idade. Esse dado integra a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2020.
O que são alimentos ultraprocessados?
Para o “Guia Alimentar da População Brasileira”, do Ministério da Saúde, os tais ultraprocessados não são classificados como comida de verdade, mas sim formulações industriais. Eles recebem grandes cargas de aditivos químicos, como açúcares, sódio, conservantes, corantes e aromatizantes, até chegar até o consumidor. Salgadinhos, biscoitos recheados, macarrão instantâneo, refrigerantes e carnes embutidas, como salsicha e bacon, fazem parte deste grupo.
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Com poucos nutrientes e calorias em excesso, os ultraprocessados podem ser extremamente prejudiciais à saúde humana. Isso porque muitos dos ingredientes adicionados a esses produtos estão relacionados ao surgimento de doenças como diabetes, hipertensão, obesidade e até mesmo alguns tipos de câncer.
Entenda a diferenças
Quem quer manter uma dieta balanceada precisa saber distinguir os ultraprocessados das outras opções disponíveis nas feiras e mercados. Os alimentos in natura são aqueles vendidos em sua forma natural, obtidos diretamente de plantas ou animais. Os minimamente processados são os que sofreram alterações mínimas, como limpeza, congelamento, secagem ou pasteurização. Já os tidos como processados passaram por processos simples, recebendo poucos ingredientes, como sal, açúcar e vinagre. Frutas em calda, carnes defumadas, legumes em conserva, pães e queijos são alguns exemplos.
Para quem ainda acha difícil diferenciar todos esses tipos de alimentos, a nutricionista Joyce Moraes aponta a leitura atenta dos rótulos como uma dica prática. “Como é que identificamos o ultraprocessado? Quando encontramos aquela lista imensa de ingredientes (normalmente, a partir de cinco) na embalagem, cheia de nomes estranhos e números. Com essa definição a gente para de demonizar tudo o que é industrializado”, indica.
Ruim para a saúde
Por serem de rápido consumo e baixo custo, os ultraprocessados são priorizados por muitas pessoas. Ao longo do dia, eles acabam substituindo alimentos naturais, como frutas, verduras e água. “A minha recomendação é eliminar o máximo possível o consumo desses produtos. Sobre a praticidade, a dica é planejamento. Pensar nas suas refeições com antecedência, fazer as compras com calma e sem fome, dando prioridade ao que está in natura e selecionando algumas poucas opções processadas para alguma eventualidade, ajuda você a não cair nos ultraprocessados”, pontua.
Outro fator que explica a ingestão elevada dos ultraprocessados é o aspecto viciante de alguns desses produtos. Uma análise recente da Universidade de Michigan e da Virginia Tech, nos Estados Unidos, mostrou que refrigerantes, salgadinhos, chocolates e outros alimentos podem gerar dependência tanto quanto os cigarros.
“Entre as várias substâncias adicionadas aos ultraprocessados, estão os realçadores de sabor, que podem ser viciantes. Eles geram essa necessidade de comer cada vez mais, porque atuam nas papilas gustativas”, explica Joyce.
“Um dos realçadores muito usados na indústria é o glutamato monossódico. Ele mexe com a percepção do paladar, fazendo com que sabores mais suaves, como aqueles tidos em verduras e frutas, sejam menos percebidos. Além disso, ele tem o poder de atravessar a barreira hematoencefálica, perturbando alguns processos cerebrais”, reforçou a nutricionista, destacando que o consumo de ultraprocessados pode ainda agravar quadros de depressão, ansiedade e TDAH.