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Gastronomia

Entre mitos, verdades e alguns estereótipos, o cinema e seu olhar para a gastronomia

Quando o assunto é gastronomia, a imaginação corre solta nas produções da sétima arte

Sem reservas explora uma cozinha “perfeita” com chefs galãsSem reservas explora uma cozinha “perfeita” com chefs galãs - Foto: divulgação

Na semana em que o Oscar chama atenção para a versatilidade do cinema, é fácil lembrar dos longas em que a gastronomia, há tempos, não surge apenas para aguçar vontades impulsivas ao redor da mesa. Seja uma cozinha de afeto ou repleta de técnica, a base de muitos roteiros lida com informações cada vez mais populares no mercado culinário de todo o mundo. Na maioria das vezes, trazem para o espectador realidades nem sempre oficiais da rotina diante do fogão.

   
Nessa linha tênue entre vida real e entretenimento está a chance de aprofundar o assunto em diferentes situações. O vinho, por exemplo, é pano de fundo em “Sideways - Entre umas e outras” (2004), reforçando a imagem de pecado e atração física inerentes à bebida. Tão festivo quanto levantar várias taças e provocar confusões, como no engraçado “Wine Country” (2019), ou ver no exagero o drama provocado pelas consequências do alcoolismo, no filme dinamarquês “Druk - Mais uma rodada” (2020).


Para o chef Leandro Ricardo, quando a pauta é a rotina dentro de um restaurante, são poucos os que retratam a realidade. Na sua lista de exceções está o britânico “O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante” (1989). “Embora tenha uma filmagem mais teatral e que envolve um romance proibido com a mulher do dono de um restaurante muito chique,  mostra uma cozinha cinza, em que todo o dinheiro é gasto no salão, enquanto nesta parte o dinheiro acabou. Hoje em dia, o cenário é mais diferente, assim como o fato de cozinhar não ser uma mera falta de opção na vida”, resume. 


As divergências entre o que de verdade ocorre nos bastidores  e aquilo que é retratado nas telas têm como explicação mais sucinta o fato de que uma obra de ficção não tem necessariamente um compromisso com a realidade. Em um roteiro cinematográfico, inúmeras vezes a verossimilhança é sacrificada em prol de um enredo mais cativante.


“Tudo depende do projeto do filme como um todo: gênero, estética e aspectos autorais. Licenças poéticas devem existir, mas precisam se encaixar à proposta da obra”, aponta o diretor, roteirista e professor cinematográfico Leo Falcão, que vê na gastronomia um campo fértil para o cinema. “Preparar uma comida é um ato primordial humano. Está ligado não só a uma questão fisiológica, mas também ao prazer e a um traço cultural. É algo que acaba permeando vários aspectos da vida”, afirma. 


Ratatouille
É difícil não se encantar com o sonhador Remy da animação “Ratatouille” (2007). No entanto, além da presença de um rato ser avessa às normas de higiene que regem a cozinha de um restaurante, o lema “qualquer um pode cozinhar”, que inspira o protagonista, é questionável em um mercado que exige não apenas talento, mas também uma boa formação técnica. Vale destacar ainda a representação estereotipada da figura do crítico gastronômico antipático e amedrontador.


Estômago
O brasileiro “Estômago” (2007) se diferencia de outros filmes que tratam da gastronomia pelo tom nada romântico. Crime, vingança e sede de poder são alguns dos ingredientes do longa. Mesmo pendendo para o realismo, a obra não deixa de reproduzir mitos relacionados à cozinha, especialmente com a ascensão meteórica do protagonista, que passa de faxineiro em um boteco a cozinheiro de um grande restaurante italiano apenas por seu talento nato.


Sem reservas
Alicerçado nos elementos básicos de uma boa comédia romântica, “Sem reservas” (2007) brinca com relações estereotipadas dentro de uma cozinha e com os diferentes perfis atribuídos aos profissionais. Kate (Catherine Zeta-Jones) é a chef perfeccionista e linha-dura, capaz de brigar até mesmo com os clientes. Já Nick (Aaron Eckhart) faz o gênero excêntrico e brincalhão, cantando ópera enquanto trabalha. A convivência começa cheia de faíscas, mas se ajusta ao longo da trama.  


Como água para chocolate
No drama mexicano “Como água para chocolate” (1992) é uma cozinha doméstica que está no centro da trama que transita pela tradição latina do realismo fantástico. É de lá que Tita (Lumi Cavazos), impedida pela família de viver seu grande amor, prepara pratos que transmitem seus sentimentos aos degustadores. “O segredo é fazer a comida com amor”, frase dita pela mocinha, revela uma visão da gastronomia guiada pela afetividade.  


Chef
Seguir o desejo de cozinhar o que bem entender pode ser algo fascinante na vida de qualquer profissional de gastronomia. No filme “chef” (2014), a relação temperamental entre cozinha e negócios aparece inflamada e isso resulta na criação de uma sanduicheria itinerante, que pega a estrada para estacionar em praças e parques públicos. Deixadas as questões legislativas da comercialização de alimentos de lado, o desejo do próprio negócio segue no contexto romântico. 


Pegando Fogo
A busca por uma terceira estrela Michelin faz o personagem de Bradley Cooper, em “Pegando fogo” (2015), reviver desafetos, encarar conflitos na cozinha, entre outras turbulências de sociabilidade, reforçando o estereótipo da pressão psicológica em torno da premiação. Alguns pontos reais são deixados de lado neste longa. É que o guia leva em consideração qualidade dos ingredientes; habilidade no preparo; combinação de sabores e níveis de criatividade.


Chocolate
Pecador, sensual e libidinoso? Sim, temos a tríade perfeita no fime “Chocolate” (2000), que usa o ingrediente da maneira mais envolvente possível. Tanto que a personagem de Juliette Binoche, jovem e solteira, abre um loja de doce em frente a uma igreja na pequena cidade da França, com sua filha de seis anos.


A 100 passos de um sonho
Com boas doses de clichê, França e Índia nunca estiveram tão perto na mesma mesa em “A 100 passos de um sonho” (2014). Nessa mistura há um Ocidente mal-humorado e arrogante e um Oriente Festivo e colorido. Pano de fundo para reforçar a mensagem do poder transformador dos temperos exóticos, a refeição como elemento agregador e a boa e velha persistência na realização de sonhos.


Filmes com espaço para 
as cafeterias

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)
Super-Homem (1978)
Coffee Town (2013)
Procura-se o amor (2014)
Onde Tudo Acontece (2006)

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