Saiba como preparar um pão caseiro
Esqueça materiais complexos e ingredientes caros. Você precisa de planejamento
O período de distanciamento social permitiu que muita gente se aventurasse no talento culinário. Para grande parte, a imersão gastronômica foi tão profunda, que receitas impensáveis para o cotidiano familiar começaram a ganhar espaço, sem qualquer cerimônia produtiva. Que o diga o mais sagrado de todos os alimentos: o pão. Este, embora seja item acessível na lista de compras, é um dos produtos mais instigantes para se colocar, literalmente, a mão na massa.
A rede social não deixa mentir tamanho interesse por este “homemade”. Nunca se viu tantos pães redondos, quadrados, com ervas, ao leite, besuntados de manteiga ou servidos com geleia artesanal, acompanhando o café da manhã ou valorizando o lanche da tarde. Para um produto tão milenar, as regras não devem mesmo ser estáticas.
Os livros contam que este foi, certamente, um dos primeiros alimentos já elaborados e transformados pelo homem, ainda na pré-história, juntamente com o cultivo do trigo. Eles recebiam uma farinha misturada com o fruto do carvalho, resultando em pães achatados, secos e até amargos. O processo era tão rudimentar, que, para ser consumido, ele era lavado várias vezes em água fervente e depois assado sobre pedras ou embaixo de cinzas.
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No Brasil, ele se popularizou no século 19, a partir dos colonizadores. Os pães brasileiros eram escuros, enquanto na França tinha miolo branco e casca dourada. Aliás, o nosso pão francês em nada tem a ver com o País que estampa esse nome. A grande diferença para o produto europeu está no uso de açúcar e gordura na massa.
Na prática: saiba como preparar
Mas longe das restrições históricas e das imposições territoriais, a receita atual pode ser menos complexa do que se imagina. Ainda assim, o proprietário da panificadora Cruz de Cristo, em San Martin, que funciona há mais de seis décadas, Artur Portella, lembra que, apesar de ser construído com matérias-primas simples, ele requer outros cuidados específicos. “Água, farinha de trigo, fermento biológico e sal. Nada de outro mundo e já é suficiente para se fazer um pão italiano, por exemplo. Dois fatores vão ser fundamentais para o sucesso: tempo para deixar que a massa fermente e cresça e temperatura ao ir para o forno”, explica.
Após ser misturada e batida a massa, ela precisa descansar por um tempo, entre uma ou duas horas. O forno deve estar preaquecido a uma temperatura elevada, entre 220º ou 250°. “São esses fatores que diferenciam a fabricação caseira e industrial de padarias e mercados. Numa padaria existe mais espaço, mais tempo, condições de regular temperatura da massa, forno com capacidade maior. Por isso, é possível fazer pães com aquele volume bonito por dentro e capa crocante. É comum que pães caseiros tenham uma massa mais densa, pouco aerada, até mesmo mais pesados. O que não significa que sejam ruins, longe disso. Mas isso se deve aos pontos que citei acima”, destaca Artur.
O jornalista e crítico gastronômico Luiz Américo Camargo, autor de livros como o “Pão Nosso”, da editora Panelinha, defendeu nas lives que participou, ao longo deste período, que fazer pão não é complicado, considerando o equipamento doméstico que as pessoas têm e o planejamento necessário para execução. Embora exista uma linha de produção com fermentação natural, como o levain, é possível realizar boas receitas com fermento biológico instantâneo, que já vem ativado. O resultado, por si, até parece mágica aos olhos.
Mais algumas dicas
Por ser um trabalho que gera satisfação pessoal, a equipe da Pacha Mama Pães y Café tem incentivado o cliente a fazer os pães em casa, inclusive doando o próprio levain, acompanhado de dicas com procedimentos. Isso, sem falar na chance de conferir uma apostila, ensinando a lidar com a fermentação natural, já utilizada em oficinas.
“Como eu sempre digo, fazer pão é bem fácil, mas exige treino para ir conhecendo a massa. Além de boa farinha, água, sal, fermento, natural ou biológico, é preciso tempo e vapor. A melhor forma de assar em casa é na panela de ferro, mas também pode usar um bowl de cabeça para baixo para criar vapor e ajudar o pão a se desenvolver e caramelizar a casca, deixando ela fininha e crocante”, ensina o proprietário e padeiro, Pedro Stor. “Gostamos de deixar a massa crescendo de um dia para o outro na geladeira, pois assim ela desenvolve melhor os sabores e fermenta com mais calma, resultando em um produto mais saboroso e digestivo”, ainda aconselha.