"Vale Tudo" à mesa: novela é repleta de referências gastronômicas que influenciaram até os cubanos
Além de abordar os contrastes sociais do país, o folhetim também ficou marcado por destacar o tema da culinária, inspirando empreendimentos até na ilha de Cuba
O recém-lançado remake de “Vale Tudo” na TV Globo, dirigido por Manuela Dias, fez uma das novelas de maior sucesso da teledramaturgia brasileira, encenada em 1988, voltar a ser um dos assuntos mais comentados do Brasil. Além de abordar criticamente os contrastes sociais do país, o folhetim também ficou marcado por suas diversas referências culinárias.
A editoria Sabores apresenta algumas curiosidades ligadas à comida que foram marcantes no roteiro de “Vale Tudo”, que vão desde um envenenamento criminoso até a empreendimentos no ramo da alimentação que influenciaram os costumes e o turismo da ilha de Cuba, fazendo sucesso junto ao público, incorporados, anos depois, ao seu patrimônio gastronômico.
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Envenenamento
A comida foi protagonista em “Vale Tudo” em uma das passagens mais memoráveis do seu enredo, quando a vilã Odete Roitman (interpretada por Beatriz Segall na versão original e, hoje, por Débora Bloch) mandou envenenar a maionese fornecida pelo Paladar, restaurante de Raquel (vivida por Regina Duarte na primeira edição e por Taís Araujo no remake).
Quando Raquel descobriu o plano maldoso de Odete Roitman, conseguiu impedir que ele destruísse a reputação do seu negócio, que foi salvo por amigos e funcionários enviados a cada restaurante de sua rede para evitar que o prato fosse servido aos clientes.
Novela em Cuba
O exemplo de superação da personagem Raquel cruzou as fronteiras do Brasil e teve grande influência em Cuba, onde a novela fez enorme sucesso. Para ganhar seu sustento, a protagonista começou vendendo sanduíche natural na praia, sob o Sol escaldante, até juntar dinheiro suficiente para abrir seu restaurante, batizado de Paladar, e virar uma empresária bem-sucedida do ramo da alimentação com uma próspera cadeia de restaurantes.
Motivados pelo sucesso da novela, os cubanos passaram a abrir pequenos restaurantes familiares, que passaram a ser chamados de “Paladar”, em homenagem ao empreendimento da heroína de “Vale Tudo”. Esses restaurantes modestos eram limitados e não podiam ter mais de 12 cadeiras, deveriam pagar uma taxa ao governo e os empregados precisavam ser membros da família. Além disso, a venda de carne vermelha e de lagosta era proibida.
Inspiração
No início da década de 1990, a televisão cubana transmitiu “Vale Tudo”, em um período de forte recessão econômica trazida pelo colapso da União Soviética, aliada do regime de Fidel Castro. Para salvar sua economia, o governo cubano, entre outras medidas, autorizou que alguns estabelecimentos comerciais privados funcionassem - algo até então era proibido.
No artigo “Novelas brasileiras: setenta anos contando histórias”, Félix A. Correa Álvarez e Jordanis Guzmán Rodríguez detalham como a personagem Raquel inspirou os cubanos e legitimou uma nova forma de fazer negócios em Cuba. O exemplo da novela brasileira, portanto, impactou positivamente a economia da ilha naquela época.
Hoje, existem dois tipos de Paladar em Cuba: os que preservaram as características tradicionais, como pequenos negócios, e aqueles que expandiram e se tornaram mais parecido com restaurantes comerciais. Dois deles, em particular, se destacam: La Guarida, cenário do filme indicado ao Oscar “Fresa y Chocolate” - e o Doña Eutimia, um dos 100 melhores restaurantes da ilha.
