Solidariedade, um ato que precisa ser contínuo

Voluntários do Recife inspiram prática e ajudam a transformar realidade através do desejo inesgotável pelo bem comum

Simone Lima faz questão de levar filha para as ações - Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Mais do que um sentimento superficial de compaixão, a solidariedade faz despertar o desejo inesgotável pelo bem comum. Embora reconheça-se o seu valor, sabe-se que não é tão simples plantar e fazer florescer. Considerada por alguns um exercício de cidadania, a solidariedade precisa ser praticada diariamente. Mas você já parou para pensar na importância que essa palavra carrega? Diante de um mundo tão conturbado, o termo conduz um signficado determinante, pois possibilita o surgimento de atitudes que estão na contramão de males como violência, corrupção e preconceitos. Tratando-se de uma via de mão dupla: quem recebe a ajuda é beneficiado, mas quem estende a mão também tem muito a receber.

Sensível às necessidades do ser humano, há alguns anos a advogada Simone Fiuza Lima, 53 anos, começou a trabalhar com pessoas em situação de rua. A forma que ela encontrou para ajudá-las foi doando cestas básicas. Há alguns anos, ela passou a trabalhar voluntariamente no Instituto Pelo Bem, que atende esta parcela da população. "A gente se sente impotente diante de determinadas situações, mas temos dentro de nós o agente modificador dessa realidade. Não podemos mudar a realidade do mundo, mas podemos interferir na realidade de quem está à nossa volta", disse a advogada, que sempre faz questão de levar a filha de 13 anos para as ações.

Leia também:
Dedicação ao voluntariado promove novos sentidos à vida
Mais que um sentimento, amor é princípio que move a humanidade


Diretora voluntária do Núcleo de Apoio à Criança com Câncer (NACC) há 13 anos, Arli Melo Pedrosa, 63, acredita que todo ser humano tem sua porção solidária. "Pode ser que, de imediato, a pessoa não saiba que tem, mas à medida que o tempo vai passando, ela vai se descobrindo. Eu sempre gostei de ter esse olhar para o outro, para o que o outro precisa, mas acredito que, ao longo do meu caminhar na vida, isso foi sendo refinado", afirma. Para Arli, primeiro é preciso se identificar com uma causa, pois assim será mais fácil ter comprometimento. "O impossível não existe. Há situações que os caminhos são mais difíceis e compete a gente achar uma forma melhor de trilhar essa trajetória para chegar ao objetivo", disse.

No final deste ano, o oftalmologista Álvaro Dantas, 53 anos, passou a ser um dos voluntários do projeto Amigos do Bem, que levava assistência às famílias do sertão nordestino. A forma que ele encontrou para ajudar foi oferecendo gratuitamente tratamento de catarata e outras doenças do olho. "Somos acostumados a querer que políticos e governos façam tudo pelos menos privilegiados, mas esquecemos que isso não é suficiente e todo cidadão, principalmente quem vive em condições de estudar, tem um compromisso social com as pessoas menos privilegiadas", comenta.

Segundo a psicóloga Lucila Barreto, ser solidário com as pessoas que estão ao nosso redor diz respeito à capacidade de reconhecer que vivemos e interagimos em sociedade. "Somos interdependentes um dos outros, ou seja, precisamos reconhecer as dificuldades e capacidades de cada um e as nossas. O objetivo é criarmos estratégias e acordos para que possamos conviver em harmonia de acordo com os nossos propósitos em comum, pois dependemos um do outro para o nosso bem estar", disse Lucila, mestranda em psicologia clínica na Unicap. Ainda de acordo com a especialista, a condição de solidariedade diz respeito à capacidade da pessoa de se identificar e sentir empatia por uma outra pessoa.

"Ter a capacidade de se colocar no lugar do outro e, a partir daí, pensar em condutas e atitudes que possam ser transformadoras e geradoras de bem estar é uma conquista que ao longo da vida algumas pessoas adquirem", comenta. Ela explica que sair do posicionamento autocentrado tem que ser a imagem e semelhança daquilo que a pessoa pensa ser o melhor para si e para o outro. "Reconhecer que vivemos em um mundo diverso, com pessoas diferentes de nós e com realidades distintas é o que estimula a capacidade de desenvolver o sentimento de solidariedade e de união entre os próximos", fala.

COMO AJUDAR

Instituto Pelo Bem
Site: www.pelobem.org.br
Endereço: Rua Pedro Henrique, 300, Santo Amaro, Recife
Telefone: 3132-8702 ou 9.8952-9897

Amigos do Bem
Site: www.amigosdobem.org
Telefone: (11) 3019-0100

NACC
Site: www.nacc.org.br
Endereço: Rua do Futuro, 855, Aflitos, Recife
Telefone: 3267-9200